Balanço
SP–Arte Viewing Room 2020
Primeira edição do SP-Arte Viewing Room consolida mercado de arte online
A primeira edição do SP-Arte Viewing Room, que aconteceu de 24 a 30 de agosto em uma plataforma hospedada no site da Feira, contou com a participação de 136 expositores, entre eles, galerias de arte e design expoentes no mercado nacional e internacional, editoras, revistas, coletivos e projetos artísticos independentes. Com a apresentação de trabalhos de mais de 1.100 artistas e uma programação dinâmica, com atividades virtuais e gratuitas, o evento online recebeu mais de 56 mil visitantes de diversas regiões. Deste total, 15% são estrangeiros e 40% são de fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, indicadores que reforçam que a descentralização geográfica é um fator significativo na renovação que está em curso no setor.
“Concluímos o SP-Arte Viewing Room, uma edição histórica para a Feira, com o sentimento de dever cumprido. Apesar dos inúmeros desafios e aprendizados, conseguimos superar barreiras e concretizar nossos propósitos, ao trazer uma plataforma funcional, dinâmica e contemporânea, que ajudou a movimentar o mercado de arte e a gerar oportunidades de negócios para nossos expositores. Além disso, percebemos uma renovação no setor. Dos mais de 56 mil visitantes que acessaram o Viewing Room, 75% são novos usuários, ou seja, pessoas que estão se aproximando agora do circuito de artes; muitos são potenciais colecionadores. Essa primeira edição virtual da SP-Arte nos trouxe um sopro de esperança sobre o futuro do mercado das artes, em um momento ainda tão delicado”, afirma Fernanda Feitosa, diretora e fundadora da SP-Arte.
Os expositores contaram com diversas ferramentas, como a possibilidade de inclusão de vídeos e áudios a fim de trazer uma narrativa única em torno de sua exposição digital, enriquecendo a experiência do usuário. A plataforma reuniu cerca de 3.600 obras, trabalhos em suportes diversos, de pinturas e desenhos a vídeos e performances, criados por artistas de diferentes gerações. O Viewing Room somou mais de 1 mil contatos a galerias, ou seja, o número equivalente à quantidade de vezes que um visitante contactou o expositor para negociar uma compra, além de 10 mil check-in’s aos projetos dos expositores, ferramenta que relembra o nostálgico livro de assinaturas de eventos físicos.
Destaques
Maior feira de arte da América Latina, a SP-Arte reúne anualmente as galerias mais influentes do circuito das artes, bem como jovens expositores, que, muitas vezes, se estabelecem no mercado ao participarem do evento. Sua estreia no formato digital seguiu pelo mesmo caminho. A Pinakotheke (São Paulo), veterana na Feira, comercializou obras de nomes emblemáticos da arte brasileira, como Di Cavalcanti e Cláudio Tozzi. A Galeria Steiner (São Paulo), casa com forte presença no circuito de modernos e contemporâneos, realizou venda de um dos mais renomados artistas brasileiras, Tunga.
Ainda entre as galerias assíduas na Feira física, a Casa Triângulo (São Paulo) efetivou transações de expoentes da cena contemporânea, como Alex Cerveny, Juliana Cerqueira e Lucas Simões.
A Verve (São Paulo) celebrou sete anos na ocasião da abertura da Feira, 24 de agosto, e relembrou sua trajetória através de um projeto inédito, que levou o nome da galeria. “Verve”, em grego, indica o espírito que anima a criação do artista.
“A Verve teve um resultado bastante satisfatório de vendas na edição deste ano. Temos certeza que foi um trabalho conjunto entre todos nós – desde a interface super intuitiva da plataforma, a disposição randômica entre as galerias, o visual do site, a proposta de cada expositor desenvolver um projeto especial – tudo isso contribuiu para o resultado alcançado. Metade das vendas aconteceram para novos clientes que nos conheceram graças à plataforma. Algumas obras entraram para importantes coleções privadas no Brasil, e duas obras foram vendidas para uma colecionadora da Austrália. Novos curadores entraram em contato conosco e um expositor estrangeiro vai começar a trabalhar com uma das artistas da galeria que conheceu através da plataforma, ou seja, tudo o que costuma acontecer numa feira presencial acabou acontecendo na edição online”, diz Ian Duarte, diretor da Verve.
“O SP-Arte Viewing Room foi surpreendente, acima da nossa expectativa. No início, alguns clientes tiveram dificuldade de acesso, estranharam o formato; dificuldades superadas no decorrer do evento. O resultado final foi muito positivo: além do contato com colecionadores que já acompanham nosso trabalho, tivemos a oportunidade de conhecer novos interessados. Eu, que até então era cético sobre o modelo online, pude constatar sua potencialidade,” afirma Rogério Pires, diretor da Fólio Galeria (São Paulo).
“A procura por obras da Central e as vendas realizadas durante o SP-Arte Viewing Room foram muito superiores ao movimento das edições físicas da Feira. Unir imagens, textos, áudios e vídeos dos artistas numa única plataforma em torno de um projeto conceitual é um desafio instigante que amplifica a visibilidade perante o público. Numa feira física, existem deslocamentos nem sempre possíveis, essa barreira se quebra com o virtual, há pessoas entrando em contato com a produção dos artistas da galeria a qualquer hora e de todos os lugares do mundo e isso é muito gratificante nas novas tecnologias. O mercado de arte, sobretudo o nacional, está iniciando sua trajetória nesse segmento. Digitalizar para democratizar. Espero que o movimento online siga crescendo e se consolidando. Minha intenção é continuar investindo nas ferramentas online, que estão se estabelecendo como principais mecanismos de negociação e visibilidade”, declara Fernanda Resstom, diretora da Central Galeria (São Paulo).
Debut
Estreando na SP-Arte, a HOA (São Paulo), galeria de arte e organização artística com um trabalho dedicado à arte contemporânea latino-americana, marcou sua primeira participação no evento com a comercialização de obras de Laís Amaral e Iagor Peres. O Levante Nacional Trovoa, coletivo de artistas visuais e curadoras racializadas fundado em 2017, efetivou negociações de obras de Bianca Leite, Hariel Revignet, Mônica Ventura e Raylander Mártis dos Anjos. E o Projeto Vênus, escritório de arte do curador Ricardo Sardenberg, marcou a estreia com venda dos trabalhos de Adriana Coppio. “O SP-Arte Viewing Room trouxe, principalmente, muita visibilidade, incluindo de colecionadores internacionais”, diz Sardenberg.
Design
Na SP-Arte, desde a criação do setor Design em 2016, os segmentos de arte e design têm espaço para se manifestarem nas mais variadas formas, convivendo com ainda mais proximidade. E no SP-Arte Viewing Room não foi diferente, uma vez que este foi o primeiro evento digital em que as duas linguagens dividiram um único espaço. Foram exibidos cerca de 24 expositores de design, entre galerias de design moderno e contemporâneo, respeitados antiquários e designers independentes.
A Passado Composto Século XX (São Paulo), conhecida por apresentar personalidades importantes da tapeçaria artística e do design moderno brasileiro, vendeu peças de nomes como Joaquim Tenreiro e Jacques Douchez. Uma das aquisições foi feita por um cliente no Ceará. “Corremos para produzir todos os materiais audiovisuais do nosso projeto, mas acredito que caprichamos! A Feira foi um momento de celebração, no qual mostramos que o mercado com profissionalismo e expertise ainda está vivo”, diz Graça Bueno, diretora da galeria.
A designer Ana Neute, que trouxe para o SP-Arte Viewing Room a coleção de carimbos “Biomba”, feita em parceria com o designer Otávio Coelho e o artista plástico Thiago Fink, e a luminária “Canoa”, projetada exclusivamente para Itens, teve um resultado surpreendente no evento, com a venda de sete objetos e diversas negociações em torno da luminária. “Decidi trazer dois lançamentos para a Feira, já que a SP-Arte acaba se tornando uma chancela de qualidade a seus expositores. E fiquei muito satisfeita com a visibilidade que tive, inclusive com contatos de fora do país”, afirma.
“Minha participação no SP-Arte Viewing Room foi muito interessante, já que trouxe um número de visitantes e visualizações que dificilmente teria em um evento presencial. Normalmente, muitas das vendas se concretizam após a Feira, portanto, a expectativa é que aconteça o mesmo na versão digital. Tenho negociações em curso com peças de edição limitada, além de outras obras”, afirma a designer e artista Jacqueline Terpins, reconhecida por seu trabalho em objetos em cristal soprado e mobiliário em madeira.
Premiação
Daniel Jablonski, da Janaina Torres Galeria, foi indicado para o prêmio-aquisição EFG Latin America Art Award, durante a primeira edição do SP-Arte Viewing Room. O prêmio acontece há dez anos e é promovido em parceria com a revista colombiana ArtNexus. O prêmio-aquisição consiste no reconhecimento da obra de um artista por meio da compra de seu trabalho para determinada coleção.
A seleção contou com a participação do presidente da diretoria do EFG Bank, Victor M. Echevarria; da diretora e editora da ArtNexus, Célia Birbragher; do curador do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Fernando Oliva; da CEO e fundadora da Liaisons Global Experiencies, Susanne Birbragher; e da diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa.
Instituições
Há mais de dez anos, a SP-Arte busca contribuir para o desenvolvimento de instituições artísticas, impulsionado a presença da produção nacional em coleções no Brasil e no mundo. No SP-Arte Viewing Room, Alexandra Bryce, presidente do Comitê de Aquisição de Arte Contemporânea do Museu de Arte de Lima (MALI), no Peru, fez uma visitação guiada pela Feira. Com a pandemia da COVID-19, o comitê, que se reunia até três vezes por ano, decidiu apostar em atividades digitais como a que Bryce e cerca de 30 patronos participaram acompanhados de galerias como A Gentil Carioca (Rio de Janeiro), Dan Contemporânea (São Paulo), Fortes D’Aloia & Gabriel (São Paulo), Mendes Wood DM (São Paulo) e Vermelho (São Paulo). Os membros do comitê selecionaram diversas obras cujas possíveis aquisições serão avaliadas na próxima reunião, em novembro.
“Durante esses tempos em que a incerteza se tornou parte de nossas vidas diárias e uma ‘nova normalidade’ ainda está moldando o mundo, as atividades virtuais vieram em nosso socorro, e o campo das artes não é uma exceção. A experiência pessoal e a interação não são substituíveis, mas temos que admitir que os esforços feitos, ou em desenvolvimento, por instituições, galerias e feiras estão tentando trazer a arte para perto de nós através de uma tela. Exposições e visitas guiadas virtuais ficarão conosco por muitos anos – isso é apenas o começo”, afirma Bryce sobre o atual momento.
O Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) também aproveitou a ocasião para incorporar à sua coleção de arte colonial brasileira um fragmento de suporte de uma “cadeira de arruar”, do final do século 18. Segundo o antiquário Sandra e Márcio (Belo Horizonte), galeria da qual a peça foi adquirida, este é um fragmento extremamente raro, visto que poucas vezes é encontrado nesse estado de conservação.
Programação
A primeira edição do SP-Arte Viewing Room contou com uma programação extensa e variada, criada em parceria com as galerias expositoras. Foram mais de noventa ações, divididas em seis categorias: Visitas guiadas virtuais, Open Studio, Conversas com artistas, Screenings, Lives e as programações exclusivas criadas em colaboração com nossos parceiros: Iguatemi, Vivo, Arte!Brasileiros e Artefacto.
O palco de programação do SP-Arte Viewing Room provou-se um importante aliado para unir o ambiente físico do mundo das artes com o ambiente virtual, e seguir movimentando a criação de conteúdo crítico, como já é de tradição da Feira. Pela Galeria Jaqueline Martins (São Paulo) deu-se o lançamento da obra Bandalha, de André Parente, uma série de cinco trabalhos com apenas dez edições de cada disponíveis. O lançamento foi acompanhado de uma conversa entre o artista e o curador Ricardo Resende. Outro fator importante do digital foi a aproximação de curadores e artistas estrangeiros na programação, a exemplo das conversas da Artespacio (Santiago), nas quais a curadora brasileira Cristina Tejo conversou com artistas chilenos como Francisca Benedetti, Francisca Garriga e Benjamin Ossa; e do bate-papo entre a artista brasileira Analívia Cordeiro e o curador francês Franck Marlot, promovida pela Luciana Brito Galeria (São Paulo).
A programação de Screening exibiu performances virtuais e obras de videoarte. Em parceria com a Mobília Tempo (São Paulo), ocorreu o lançamento do happening “Geni de Si”, que marca a estreia do fotógrafo Ruy Teixeira como diretor, e na qual os artistas Lianna Matheus e Otto colocam em diálogo obras de artistas de várias mídias. Em parceria com o MAI (Marina Abramovic Institute), a HOA Galeria trouxe o sétimo episódio da websérie Calçado Monstro, realizado pelo grupo Estileiras, e que configura uma performance virtual com atravessamentos do mundo físico.
Em parceria com a Arte! Brasileiros, a SP-Arte lançou o curso “Cartografia do Olhar”, idealizado e ministrado pela artista, curadora e pesquisadora Ana Beatriz Almeida. O curso, que teve seu lançamento durante o Viewing Room, conta com duas aulas – “Mar e Travessia” e “Estadia e Permanência” – nas quais Almeida ensina sobre as obras de Juliana dos Santos, Rosana Paulino, Moisés Patrício e Antônio Obá. As aulas permanecem disponíveis gratuitamente no portal da SP-Arte.