Balanço
SP–Foto Viewing Room 2020

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Primeira edição do SP-Foto Viewing Room aponta para tendência de novos públicos e descentralização geográfica

 

De 23 a 29 de novembro, o SP-Foto Viewing Room reuniu 54 expositores, entre expoentes da fotografia moderna e contemporânea, galerias, coletivos, editoras, museus e projetos artísticos independentes do circuito nacional e internacional de artes visuais, na plataforma digital hospedada no site da SP-Arte. Ao longo dos sete dias, a Feira apresentou cerca de 1.500 produções fotográficas de mais de 150 artistas, além de uma programação gratuita e virtual, que gerou mais de 25 mil visitas de diversas regiões e mais de 150 mil visualizações de página. Desta soma, 10% são visitantes de outros países, indicador que enfatiza a tendência da descentralização geográfica que está em curso no setor.

“O momento que vivemos, com o recrudescimento da pandemia, atingiu todos os setores, inclusive o nosso, ainda que tenhamos características bem específicas. É por isso que estamos sempre renovando a cada edição, buscando atualizar, oxigenar e aproximar a feira de públicos diversificados e da sociedade em geral. Nesta edição do SP-Foto Viewing Room, nossos indicadores computaram que 78% dos visitantes que recebemos são novos usuários, o que confirma a tendência que observamos no SP-Arte Viewing Room de que um novo público está se interessando e se aproximando do mundo das artes por meio das plataformas digitais”, reflete Fernanda Feitosa, diretora e fundadora da SP-Foto.


Destaques

Principal evento do Brasil voltado à linguagem fotográfica, a SP-Foto reúne anualmente os mais renomados artistas do setor ao lado de jovens talentos. Em sua versão Viewing Room, a Feira trouxe expositores como Almeida e Dale (São Paulo), Fólio (São Paulo), Galeria Frente (São Paulo) Utópica (São Paulo) e Instituto Mário Cravo Neto (Salvador) que comercializaram, respectivamente, obras de nomes nacionais e internacionais como Barbara Mors, Denise Colomb, Vik Muniz, José Yalenti e Mário Cravo Neto.

O evento foi interessante na divulgação do acervo e foi bom também para aumentar o contato e o manejo do modelo online. Comercializamos quatro obras e dentre os compradores está um colecionador de Londres, que adquiriu mais de uma fotografia, um colecionador do Rio de Janeiro, um de Belo Horizonte e outro aqui de São Paulo”, comenta Rogério Pires, sócio da Fólio.

Também assídua no evento, a Arte57 (São Paulo) trouxe ao Viewing Room obras de nomes como Claudio Edinger e Betina Samaia. “Ao longo do SP-Foto Viewing Room, vendemos três fotografias, e ainda temos outras vendas em andamento, que surgiram por ocasião da Feira. Para nós, é sempre importante a participação no evento, pois ampliamos a visibilidade da galeria. Tivemos acesso a novos contatos, além de receber visitas presenciais motivadas por nossa participação”, afirma Guilherme de Magalhães Gouvêa, sócio da Arte 57.

Para Andrea Rehder (São Paulo), que levou ao SP-Foto Viewing Room trabalhos de artistas como Helo Sanvoy, Wagner Barja e Alessandra Rehder, “a plataforma é a única forma de trazer arte nesta pandemia. Por conta da divulgação da Feira, tivemos uma venda antes do evento iniciar”.

Segundo Ana Beatriz Almeida, uma das fundadoras da 01.01 Art Platform (São Paulo), a participação no SP-Foto Viewing Room “trouxe uma boa divulgação para o projeto e estamos com três negociações em curso”.


Estreias

Sempre em busca da reinventar e oxigenar o setor, a SP-Foto abre, cada vez mais, espaço para novos projetos. “É algo que o digital potencializou e facilitou, a exemplo da participação inédita do MFON: Women Photographers of the African Diaspora (Nova York), um coletivo norte-americano responsável por representar a voz de artistas mulheres afrodescendentes”, explica Fernanda Feitosa.

As fundadoras do coletivo, Laylah Amatullah Barrayn e Adama Delphine Fawundu, afirmam que “foi uma experiência maravilhosa para nós e as artistas representadas. Todas ficaram encantadas com a ótima apresentação da exposição. Estamos ansiosas para futuras colaborações, mal podemos esperar para finalmente visitar o Brasil!”.

Também debutando nesta edição do SP-Foto Viewing Room, a plataforma Piscina Art (São Paulo) estreou na Feira com obras produzidas por jovens artistas mulheres que tratam sobre temáticas relacionadas à autoimagem, representação e corpo, além de processos de transformação e diferentes percepções e meios de estar na natureza. Foram exibidas fotografias de nomes como Alice Yura, Alile Dara Onawale, Amapoa (Camila Svenson e Pétala Lopes) e Camila Fontenele.

“Durante a Feira fizemos uma venda e temos ainda duas vendas por acontecer. Também tivemos alguns contatos dentro e fora da plataforma, inclusive fora do eixo Rio-São Paulo. Recebemos mais dois contatos também fora da plataforma”, afirma Paula Plee, co-fundadora da Piscina. “A participação da Piscina na SP-Foto foi muito importante para que pudéssemos testar o novo modelo de vendas que estamos criando, não só em questões relacionadas diretamente às transações, mas também no que diz respeito à produção de obras, organização e relacionamento com as artistas. Já nas redes sociais tivemos um aumento expressivo no alcance de nossas publicações (+45%), nas interações (+25%) e também no número de seguidores. Outro ponto que considero bastante importante foi a aproximação e os contatos que estabelecemos não só com os colecionadores, mas também com galeristas”, completa.

Entre os expositores de fora do eixo Rio-São Paulo, o Centro Cultural Veras (Florianópolis), projeto que surgiu com o objetivo de responder à demanda de espaços culturais na região de Santa Catarina, marcou sua estreia na Feira com obras de fotógrafos emblemáticos da contemporaneidade, como Ding Musa, João Castilho, Laura Belém, Laura Gorski e Ricardo Barcellos. O valor arrecadado com as vendas das obras será revertido à construção do espaço físico do Centro Cultural.

“A generosidade de uma parcela expressiva de artistas brasileiros têm tornado possível o custeio de materiais de construção do Centro Cultural Veras, depois de uma longa caminhada para obter o terreno, os projetos aprovados e a equipe técnica de construtores e engenheiros. Com isso, a possibilidade de apresentar a nossa caminhada de longo fôlego no SP-Foto Viewing Room permitiu que o projeto chegasse a pessoas residentes em diferentes partes do mundo. Para um projeto em construção e ilhado, o trânsito livre favorecido pelo evento funcionou como uma das múltiplas pontes que buscamos construir enquanto erguemos o centro cultural em Florianópolis”, diz Josué Mattos, fundador do CVV.


Instituições

Há mais de dez anos, a SP-Arte busca impulsionar a presença da produção nacional em coleções no Brasil e no mundo. Para o SP-Foto Viewing Room, foi firmada uma parceria com a plataforma Preview (preview.art), fundada por Gabriel Pérez-Barreiro, Matt Jameson Evans e Joel Patrick. Este serviço dedicado a colecionadores e entusiastas da arte oferece a seus membros seleções virtuais do melhor da produção artística ao redor do mundo.

Ao longo do evento, a plataforma apresentou quatro seleções de fotografias disponíveis na Feira online, pinceladas por Gabriel Pérez-Barreiro, Bob Wolfenson, Adama Delphine Fawundu e Heloisa Espada. “Nossa experiência como parceiros de conteúdo para os convidados da SP-Arte durante o SP-Foto Viewing Room foi excelente. A equipe está entre as melhores com as quais já trabalhamos e tivemos um grande engajamento com o conteúdo que desenvolvemos. O material da plataforma online da SP-Foto era muito diverso, então pudemos desenvolver quatro exposições completamente diferentes que aconteceram ao longo de quatro dias. Estamos ansiosos para novos projetos com a SP-Arte no futuro”, afirma Pérez-Barreiro.

Em parceria com a SP-Arte, o Preview promoveu ainda uma visita exclusiva para patronos e conselheiros do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), conduzida por Gabriel Pérez-Barreiro e com mediação de Juliana Sá, Diretora Vice-Presidente do museu. O tour virtual por alguns destaques do SP–Foto Viewing Room contou com a presença de 25 colecionadores, entre patronos e conselheiros da instituição.

“A seleção de fotografias na SP-Foto feita pelo curador Gabriel Pérez Barreiro e a visita feita sob medida para Patronos do Museu são uma ferramenta importante de apresentação de novos artistas, de educação e de estímulo ao colecionismo e ao patronato”, afirma Juliana Sá, diretora vice-presidente do MASP.

O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) participou do SP-Foto Viewing Room comercializando edições especiais do seu tradicional Clube de Colecionadores de Fotografia, que completa duas décadas neste ano. “As redes de articulação do setor cultural devem ser intensificadas e mais do que nunca o circuito de artes visuais precisar atuar em conjunto. Esta iniciativa de parceria simboliza a participação do MAM no SP-Foto Viewing Room”, diz Mariana Guarini Berenguer, presidente do Museu.


Editoras

No ano passado, a SP-Foto estreou um setor editorial dedicado às principais editoras voltadas à produção de fotolivros e outras publicações relacionadas ao fazer fotográfico. No Viewing Room, a proposta de oferecer prints e livros especiais com valores acessíveis ao público não foi diferente. Participaram desta edição online Fotô Editorial, Lovely House, Terra Virgem Edições e Taschen, quatro das principais editoras focadas em fotógrafos e fotógrafas.

“Dentre os compradores, está um colecionador de Londres, que adquiriu mais de uma obra, um colecionador do Rio de Janeiro, um de Belo Horizonte e outro aqui de São Paulo”, afirma José Fujocka, um dos editores da Lovely House.


Programação

O SP-Foto Viewing Room contou com uma programação dedicada a questões urgentes da fotografia brasileira, criada em parceria com as galerias expositoras e patrocinadores e parceiros, como Iguatemi e a KURA. Realizadas totalmente online, as conversas renovaram a missão de movimentar o mundo da arte não apenas comercialmente, mas na produção de conhecimento e conteúdo sobre o tema.

O Talks reuniu nomes importantes como Ayrson Heráclito, Daniel Jablonski e Eder Chiodetto, que dividiram com o público seus processos criativos durante o momento mais agudo da pandemia, além de João Farkas e Lalo Almeida, que conversaram sobre o registro das queimadas no Pantanal. Já o Meet the Artist, com curadoria de Luciara Ribeiro, apresentou ao público a chance de acompanhar de perto a produção de criadores contemporâneos de fotografia: Moara Brasil, o duo Takeuchiss e Rafael BQueer.

O artista Bob Wolfenson, representado pela Galeria Millan (São Paulo), participou de conversa com a curadora Gisela Gueiros sobre a seleção de obras da publicação Desnorte, que contempla vários momentos de sua carreira, e foram apresentadas no estande virtual da galeria. O bate-papo virtual obteve mais de mil visualizações.

Liderado pela artista Ursula Jahn, a Piscina Art transmitiu um workshop que apresentou o percurso da mulher na fotografia brasileira. Passando pelas cinco regiões do país, foram exploradas a produção de fotógrafas no Brasil do século 20 ao contemporâneo, buscando questionar os motivos que levaram elas a ter uma menor visibilidade nas narrativas hegemônicas da história da fotografia.

No perfil da Galeria Karla Osório (Brasília) ocorreu uma conversa entre a artista Élle de Bernardini e o curador Diego Matos sobre as relações que existem entre a prática performática e as nuances da construção de seu registro fotográfico.

Durante as coberturas e nos momentos de folga, a jornalista Candice Carvalho Feio circulava por Nova York, cidade onde vive e trabalha, com sua câmera percebendo as mutações da cidade e de seus habitantes durante a pandemia e os protestos antirracismo. Assim deu origem ao fotolivro Asfixia, que conta com prefácio de Caetano Veloso, e que teve seu pré-lançamento realizado pela Fotô Editorial no último dia do SP-Foto Viewing Room.