Balanço
SP–Arte 2021
A 17ª edição da SP–Arte, que aconteceu de 20 a 24 de outubro, simultaneamente no espaço físico da ARCA, galpão de 9 mil metros quadrados localizado em São Paulo, e no ambiente online Viewing Room (que ficou disponível até dia 31 de outubro), contou com a participação de 128 expositores, sendo 84 presenciais e 44 exclusivamente no meio digital. Ao longo dos cinco dias, cerca de 18.500 pessoas visitaram a ARCA, esgotando praticamente todos os ingressos disponibilizados, que neste ano trabalhava com uma capacidade de público limitada, por conta da pandemia de Covid-19.
“Conseguimos entregar um evento seguro que reaproximou expositores e artistas do público, além de também termos aprimorando nossa plataforma digital, fazendo com que a SP–Arte não se restrinja apenas aos dias de evento, mas se consolide também como um canal de acesso e credibilidade para a arte brasileira e internacional”, comenta Fernanda Feitosa, diretora e idealizadora da Feira. O sucesso comercial superou as expectativas, com saldo positivo de vendas e reservas, gerando otimismo também para o pós-feira.
Com uma exposição inteiramente dedicada ao legado de Lasar Segall, a Almeida e Dale Galeria de Arte, realizou venda e reservas do acervo. Também tradicional participante da feira, a Bergamin & Gomide fechou vendas importantes, incluindo trabalhos de Lucio Fontana e Donald Judd, e aposta com otimismo no pós-feira.
Um dos espaços mais disputados, a VERVE Galeria vendeu 95% do primeiro acervo exposto, que continha desenhos, pinturas e esculturas de Francisco Hurtz, e a segunda montagem teve mais da metade de suas obras comercializadas. No Viewing Room, a Galeria recebeu proposta de uma instituição para aquisição de toda a coleção.
Dois dias antes do término da Feira presencial, a Portas Vilaseca Galeria já havia vendido a totalidade de obras selecionadas: oito pinturas e 18 desenhos, todas de autoria do artista mineiro Gustavo Nazareno.
O Viewing Room, disponível até o fim de outubro, contou com mais de 40 mil acessos, dentre visualizações no Brasil, mas também do exterior. O espaço digital, aprimorado na edição de 2021, marcou a forte participação online do evento no mercado de arte, permitindo que o público de todo o mundo tenha acesso às obras das galerias – tanto as que participaram presencialmente da SP–Arte quanto as que comercializam seus trabalhos exclusivamente pela página. Com o Viewing Room, a SP–Arte garantiu também uma forte participação de galerias internacionais, como a Labor, no México; Marian Goodman Gallery, nos Estados Unidos da América; e Piero Atchugarry Gallery, no Uruguai e Estados Unidos da América.
Atividades no STATE
Consenso entre os expositores, a Feira atrai, a cada ano, um público cada vez mais interessado em consumir cultura. Tradicionalmente, a SP–Arte reúne nomes importantes da arte contemporânea para discussões aprofundadas que fomentam a arte e a cultura. O STATE, espaço anexo da ARCA, também acolheu grande parte desta programação.
Além de um espaço dedicado às editoras, aconteceram Talks com curadores, artistas, jornalistas e representantes do mercado da arte; exposição sobre arte e tecnologia com curadoria de Ana Carolina Ralston e o AR JAM, que trouxe esculturas em realidade aumentada criadas por mais de 30 code designers e desenvolvedores a partir de um open call que teve 35 equipes inscritas. A visitação aconteceu por meio de QR codes instalados pelo espaço.
O AR Jam é uma iniciativa da BRIFW em parceria com o Hic Et Nunc, State Innovation Center, Centro-br e 8thWall, que tem por objetivo reunir desenvolvedores, artistas e designers para defender um futuro mais inclusivo e diverso a partir de práticas sustentáveis entre moda, arte e tecnologia.
O Talks assumiu um formato inédito, promovendo encontros e discussões entre profissionais da arte e o público da 17ª edição da SP–Arte. Desenhado para acontecer de forma adequada ao contexto atual, o Talks ocupou a arquibancada do STATE, com conversas mais informais, entre trinta minutos e uma hora de duração, em parceria direta com os próprios expositores e sob coordenação de Felipe Molitor.
No dia da abertura, 20, a Casa Chama promoveu uma conversa entre os fundadores da ONG, Digg Franco, Matuzza Sankofa e a artista Cinthia Marcelle, sobre a importância da visibilidade e do reconhecimento das produções artísticas de pessoas trans e de como qualquer pessoa pode ser uma aliada da ONG e suas ações nas áreas de cultura, jurídica, psicossocial e empreendedorismo. Foram convidadas para falar sobre o projeto Potência Ativa – articulação de projetos de arte que debatem as urgências do mundo e geram recursos para organizações que trabalham diariamente no front das lutas sociais – as integrantes Maíra Marques e Gabriela Davies, acompanhadas pela artista e pesquisadora, Fabiana Faleiros.
Já no dia 22, sexta-feira, a Central Galeria promoveu um encontro entre a artista Gretta Sarfaty e a pesquisadora da arte, Mirtes Marins de Oliveira, âncora do podcast da SP–Arte, “Arte em meio-tempo”. Ambas tratam sobre o processo de reedição do livro “Auto-Photos”, um fac-símile de uma edição rara de 1978, e outras histórias relacionadas à arte e à vida. O galerista Thiago Gomide apresentou a artista Luiza Crosman, que realiza no ano que vem sua primeira exposição individual na Bergamin & Gomide, com sua pesquisa em torno das obras “A Garota do tempo” e a vidente. A VERVE propôs o debate “Eu e os outros: a crise do masculino”, com o artista Francisco Hurtz; o professor, escritor e advogado, Renan Quinalha e; com o pesquisador e professor, Mateus Nunes, a partir da proposta artística “Eu e os outros”, de Francisco Hurtz, exposta no estande presencial da VERVE. A conversa aberta abordou temas como os desdobramentos políticos da masculinidade, mas também sobre arte, democracia e virilidade.
No sábado, dia 23, promovida pela Casa do Povo, a mesa Espaços Autônomos e Dependências Táticas convidou Benjamin Seroussi (Casa do Povo), Mauro Restiffe (artista) e Eliana Finkelstein (Vermelho). A conversa apresentou as colaborações entre os diferentes agentes do sistema da arte, tendo um representante de espaço autônomo (Benjamin), um artista (Mauro) e uma diretora-sócia da galeria (Eliana). O caráter multifacetado e inquieto da obra de Fernando Zarif (1960-2010) foi celebrado com o lançamento do livro “Fernando Zarif – Múltipla Unidade”, que acompanhou uma videoexposição nas empenas do Minhocão paulistano. Durante o lançamento, uma prévia da exposição foi exibida para os visitantes da SP–Arte, com vídeos de Barbara Gancia, Bia Lessa, Branco Mello, Cacá Ribeiro, Carolina Ferraz, Erika Palomino, Fernanda Torres, Lenora de Barros, Liana Padilha, Malu Mader, Marina Lima, Paulus Magnus, Sergio Mekler e Tony Bellotto lendo trechos do livro.
Ainda no dia 23, a 01.01 Art Platform tratou dos encontros ético-estéticos entre Abdias do Nascimento e Mestre Didi, com apresentação da artista e pesquisadora, Ana Beatriz Almeida. Na ocasião, a trajetória dos dois artistas foi apresentada, relacionando-as com suas ancestralidades e reflexos no mundo atual que narrou a trajetória dos artistas. Fechando o programa da 01.01, no domingo, último dia da Feira, o colecionador Ademar Britto apresentou a fala Colecionismo e Inovação, detalhando como foi seu mergulho nas artes visuais, o incentivo aos jovens artistas e os destaques atuais de sua coleção e pesquisa em arte.
SP–Arte Experiências Digitais
Com organização da consultora e especialista no mercado de arte Vivian Gandelsman, a SP–Arte Experiências Digitais propôs uma navegação por projetos, discussões e propostas criativas para contribuir com a produção artística no campo digital. O projeto, que aconteceu no segundo dia do evento, reuniu uma rede de profissionais que estão em constante diálogo e enfrentam desafios comuns.
A atividade, que integra um movimento que busca sustentabilidade no mercado de arte digital, foi composta por cinco Talks: Colaborações Transdisciplinares, um diálogo entre o artista maranhense, Thiago Martins de Melo, e o designer, Raul Luna, sobre o processo criativo e a concepção da exposição digital “Animal Crepuscular”. Vivian Gandelsman contou sobre o processo de venda do trabalho e do mapeamento de compradores.
Em NFTs e Tecnologia Blockchain, o colecionador Bernardo Faria e Vivian Gandelsman falaram sobre o mercado da arte digital e, mais especificamente, sobre a criptomoeda NFT (tokens não fungíveis). Com experimentações no campo digital, a artista Vitória Cribb apresentou relações entre seus processos tecnológicos criativos, formalização e perspectivas pessoais na produção artística digital.
Em Co-constituição Capital e Subjetividade, a artista Ode apresentou Notas sobre Travecaceleração, pensamento sobre a negritude ladeada pela travestilidade enquanto práticas de desmonte capital-colonial cisgênero da artista. O último Talk, chamado Práticas de Experimentação e TRANSgressão Disciplinar trouxe a artista Dani Pinheiro e o dramaturgo João Turchi, do grupo Mexa, para contar sobre as ações do coletivo, que transitam entre a arte e a política, além de abordar as práticas transdisciplinares e colaborativas de projetos digitais.