Editorial
Feature
Onde estão as curadoras negras e indígenas do Brasil?
23 Mar 2021, 12:25 pm
Vivemos recentemente uma série de exposições e projetos organizados por instituições artísticas com o objetivo de promover maior ‘diversidade’ racial, de gênero e classe em suas equipes. Apesar das boas intenções, os dados aqui revelam que ainda falta muito para que essas ações interfiram na base e promovam uma mudança real na contratação dos profissionais negros e indígenas nas equipes curatoriais. Quando uma instituição se propõe a ter a luta antirracista como uma de suas bandeiras, é fundamental que ela entenda que isso não diz respeito apenas a pensar as temáticas de suas programações e exposições, mas que inclui manter equipes com significativa presença de profissionais negros e indígenas, onde esses possam ter seus trabalhos reconhecidos e remunerados com valores justos. E que, quando esta e seus curadores, diretores e coordenadores brancos se calam e optam por seguir trabalhando com equipes majoritariamente brancas, corroboram com a manutenção do racismo.
O trecho acima foi escrito pela curadora Luciara Ribeiro, e integra o longo relatório que criou em parceria com a Rede de Pesquisa e Formação em Curadoria de Exposição, o Laboratório de Curadoria de Exposições Bisi Silva, o ProjetoAfro e o coletivo Trabalhadores da Arte, entitulado “Curadorias em disputa: quem são as curadoras e curadores negras, negros e indígenas brasileiros?”. Resultado de uma pesquisa iniciada em 2019, o relatório apresenta um levantamento de curadores negras, negros e indígenas em território brasileiro; as regiões nas quais atuam; em qual regime de trabalho integram o mercado; seu gênero; entre outros dados relevantes.
Entre as coisas explicitadas pela pesquisa de Ribeiro está a contradição entre o discurso de maior “inclusão” promovido pelas instituições culturais e implementado via programações de exposição, e a força de trabalho de tais instituições, que têm grande parte de seu corpo curatorial e diretoria composta por pessoas brancas. A pouca empregabilidade dos curadores negros e indígenas ao longo da história de curadoria no Brasil fica explícito quando vemos, por exemplo, que o Museu de Arte de São Paulo (MASP), fundado em 1947, contratou suas primeiras curadoras negras, Horrana de Kássia e Amanda Carneiro, apenas em 2018, e a primeira curadora indígena, Sandra Benites, somente em 2019, complementa Ribeiro.
O relatório pode ser encontrado no site do ProjetoAfro aqui. Como parte do desdobramento da pesquisa de Ribeiro, o portal está desenvolvendo uma série de conversas e perfis que dão destaque aos curadores mapeados, dando continuidade ao trabalho de inserção destes profissionais dentro de um circuito institucionalizado da arte.
SP–Arte Profile
Join the SP–Arte community! We are the largest art and design fair in South America and we want you to be part of it. Create or update your profile to receive our newsletters and to have a personalized experience on our website and at our fairs.