Editorial
Opinion
Contar segundos
Jacopo Crivelli Visconti
16 Sep 2020, 1:45 pm
Ana Amorim formou-se nos Estados Unidos, e seu trabalho situa-se na linhagem de artistas ativos no âmbito do movimento conceitual a partir dos anos 1970, principalmente em Nova York. A escolha de trabalhar catalogando obsessivamente as atividades de cada dia, ou de se dedicar a ações de longa duração, por exemplo, encontra correspondência nas práticas de On Kawara e Tehching Hsieh. Durante mais de uma década, Amorim recusou-se a participar de qualquer exposição que fosse patrocinada por empresas particulares, o que, por um lado, acabou tornando seu trabalho praticamente invisível, por outro permite considera-la uma das pouquíssimas artistas brasileiras a adentrar o campo da crítica institucional.
A performance “Contar segundos”, que a artista executou em diversas oportunidades desde 1984, consiste literalmente em contar os segundos, um por um, ao longo de uma hora. Para cada segundo a artista traça uma linha num caderno, que se torna assim o registro da ação, e a cada minuto anota o total de minutos vividos até o momento. A mesma concentração e dedicação que a artista demonstra na realização da performance transparecem em outros projetos, e principalmente o dos “Mapas”: há mais de três décadas, ao final de cada dia, Amorim desenha um mapa mental de todos seus movimentos ao longo do dia. Em alguns casos, esses mapas confluem em trabalhos maiores, como a série das quatro “Grandes telas”, instalações de parede de grandes dimensões, todas formadas por 365 partes, cada uma o retrato efêmero, poético e pessoal de um dia.
Este texto foi publicado originalmente no catálogo da exposição “Matriz do tempo”
(MAC-USP, 2018).
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