Editorial
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Introducing the Igreja do Reino da Arte, a special project participating in SP–Arte Rotas Brasileiras 2023
Igreja do Reino da Arte
22 Aug 2023, 4:29 pm
A Igreja do Reino da Arte é uma congregação aberta a artistas, fiéis e curiosos, fundada no Rio de Janeiro e que promove desde 2017 cultos, rituais e entregas em nome da Altíssima Arte, utilizando se de seus símbolos criados e apropriados do universo artístico e religioso. Sua principal entidade é Anoiva, padroeira da Igreja, que está presente em todos os cultos em quadro e oração. Durante a comunhão, se consome o tradicional Mate Santo e acendem-se velas para as rezas coletivas. Por meio de suas ações, se propaga uma fé que é alimentada e testemunhada por seus participantes, como Peregrinações, Santa Ceias, Oferendas, Ações de Graça, Boas Novas, Confissões, Batismos, 1as Comunhões, Seitas, Canonizações etc.
A convite da SP–Arte Rotas Brasileiras, a Igreja apresenta nova entidade, a Santa do Paoco. Recém canonizada no Rio de Janeiro, se apresenta por meio de uma obra inédita, Lenticular Santa do Paoco, desenvolvida pelo artista Edu de Barros em co-autoria com a artista Andy Villela. Para tal acontecimento, ocorrerá todo dia, durante a feira, uma reza às 18h, na qual os fiéis e público presente participam ativamente dessa consagração. Além da obra, estarão disponíveis os santinhos com as orações, o tradicional mate santo, camisetas e uma tiragem de 10 ex-votos de cera com a imagem da Santa feitas a partir da escultura original em madeira.
A Santa do Paoco é a padroeira da edificação artística e se desdobra como uma entidade cujo simbolismo está associado à representação trans e feminina nas instituições sociais e artísticas. A todos os fiéis que recorrem a sua dádiva serão agraciados pelas conquistas materiais e espirituais que tanto necessitam. Sua força reside em desimpedir barreiras sociais e estruturais para ascensão profissional ou realização pessoal a qualquer indivíduo no meio artístico e criativo, em especial as pessoas dissidentes de gênero.
“Santo do pau oco” é uma expressão popular brasileira utilizada para designar um indivíduo de caráter duvidoso, como ações fraudulentas, uma pessoa mentirosa, falsa ou hipócrita, sendo que atualmente o seu sentido denota o nível de falsidade ou hipocrisia de alguém. Em seu sentido figurado, esta expressão também serve para indicar que determinada pessoa aparenta algo que não é, iludindo todos à sua volta. A imagem gerada na obra lenticular é encarnada pela artista Andy Villela, uma travesti que tem transicionado entre processos de hormonização e performatividades de gênero, onde a legitimidade de sua mulheridade é constantemente atravessada e questionada – no mesmo contexto utilizado na expressão popular do santo do pau oco. Nesse sentido, a Santa do Paoco opera em sua existência todas as contradições simbólicas ligadas aos marcadores identitários que a constituem.
Antes da abertura da feira, serão realizadas duas procissões, a primeira no Rio de Janeiro, do MAM RJ até o MAR (Museu de Arte do Rio) e a segunda do MASP até a ARCA (local da feira), carregando a imagem da Santa do Paoco em madeira e realizando sua reza nos locais de partida e chegada.
Conheça os artistas da Igreja do Reino da Arte participando de SP–Arte Rotas Brasileiras:
Andy Villela (1994), Rio de Janeiro. A artista utiliza em primeira instância a pintura como eixo dorsal de sua produção. Sua pesquisa ativa o próprio corpo sobre a superfície da pintura além de uma constante experimentação matérica resultando em uma linguagem investigativa e provocadora, propondo questionamentos acerca da racionalidade social e estética associada a padrões vigentes.
Num resgate emancipatório referente a criação de uma linguagem própria, propõe protagonismo ao seu processo gestual, desbravando sentidos entre suas emoções e desvelando assim a essência de sua poética: uma pintura livre da dependência da figura, mas que abarca o processo subjetivo desencadeado pelas múltiplas relações estabelecidas com a tela.
Construindo assim, uma narrativa não-linear e que não se atém apenas a pura aleatoriedade, mas que se retroalimenta e permite ir além da imposição de um fazer anestesiado.
Andy participou de coletivas em instituições como EAV Parque Laje, Casa de Vidro Lina Bo Bardi, Instituto Nise da Silveira e teve sua primeira individual na Nonada ZS, curada por Clarissa Diniz, em maio deste ano.
Edu de Barros (Rio de Janeiro, Brasil, 1992) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Em seu trabalho o universo pictórico é construído com um caráter profético, friccionando as representações e linguagens clássicas com assuntos contemporâneos. Suas obras são sinais de um apocalipse mundano, que incorporam ícones da vivência cotidiana e conteúdos digitais, dialogando com passagens mitológicas e sagradas tradicionais. O artista também atua como profeta na Anoiva, a Igreja do Reino da Arte, uma congregação de artistas e fiéis que manifestam a presença da arte em cultos, rituais e entregas. Em sua primeira individual, CROPPED (Sé, São Paulo, 2020), com curadoria de Clarissa Diniz, ganhou notoriedade por seu confinamento produtivo dentro do espaço expositivo no contexto da pandemia. A exposição foi realizada com o companheiro de trabalho Raoni Azevedo, e seu processo de feitura transmitido em tempo real o processo completo da pintura de um enorme afresco pelas superfícies da galeria. De 2020 a 2022 integrou mostras coletivas em espaços institucionais como o Museu de Arte do Rio, MAM-Rio, Centro Municipal de Cultura Helio Oiticica, MUHCAB e Comporta (Portugal). Com Raoni Azevedo realizou a exposição Repartição (Galeria Refresco, Rio de Janeiro, 2022). Participou da residência artística Homesession, em Barcelona, em fevereiro de 2023.
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