"Homenagem a George Segal" (1975), Lenora de Barros (Foto: Enciclopédia Itaú Cultural)
SP–Arte

Audioguia 2021: O corpo como suporte e reflexão sobre o mundo

Camila Bechelany
9 Dec 2021, 6:24 pm

Este texto foi escrito por ocasião da SP–Arte 2021 e compõe um dos audioguias produzidos exclusivamente para a Feira. Você pode ouvi-lo aqui:

Neste roteiro vamos falar sobre artistas de diferentes gerações que utilizam o corpo como meio ou suporte para construir uma reflexão sobre o mundo. Neide Sá (1940) artista do Rio de Janeiro (Galeria Superfície) que foi participante do movimento Poema processo, realizou em 1968, o livro-objeto “Ciclo infinito vida-morte”. Nele uma caixa de acrílico abriga uma fita de Moebius, símbolo do infinito, e em um áudio ouve-se uma gravação com os batimentos do coração da artista. O trabalho materializa ao mesmo tempo a fragilidade da vida, que pode se interromper a qualquer instante e sua sacralidade, sendo parte de um processo mais amplo e infinito de vida e morte. Outras duas artistas da mesma geração, Vera Chaves Barcellos (Galeria Superfície) (1938, Porto Alegre) e Sonia Andrade (1935, Rio de Janeiro), se destacam por obras experimentais em fotografia e vídeo que utilizam a imagem do próprio corpo para expressar situações de opressão e alienação vividas no Brasil dos 70 e que de modo algum perderam sua atualidade hoje.

"O Passeio" (1984), Sonia Andrade (Foto: MAM Rio)

Para uma geração atuante a partir dos anos 1980, a identidade visual do artista continua sendo um recurso importante mas agora para expressar a liberdade. Nos álbuns, colagens e trabalhos fotográficos de Hudinilson Jr. (1957 – 2013, São Paulo), galeria Jaqueline Martins, estão expressos desejos e fantasias sexuais. A série Exercício de me ver de 1980-84, um de seus trabalhos mais conhecidos, é resultado de investigações de possibilidades visuais em reproduções xerográficas em que o artista utiliza o próprio corpo nu como matriz e tem aspiração erótica e pornográfica e sempre à revelia do conservadorismo e do preconceito.

Caderno de referência n. 94 (anos 00), Hudinilson Jr. (Foto: Pinacoteca do Estado)
"O Estranho Desaparecimento de Vera Chaves Barcellos" (1976/2013), Vera Chaves Barcellos (Foto: Galeria Superfície)

Em outro registro, a artista Lenora de Barros (São Paulo, 1953) galeria Bergamin & Gomide, também faz frequentemente uso auto-representação por meio da foto-performance mas para retratar e problematizar a figura do artista universal e não em relação a sua narrativa pessoal. São de destaque as obras Homenagem a George Segal (1975) ou Procuro-me (2002). Lenora desenvolve uma obra consistente assentada na comunhão entre a palavra (falada ou escrita), o corpo e o espaço. 

Homenagem a George Segal (1975) lenora itaucultural-NOISE

Interessada especificamente na relação do corpo com o espaço, a artista Ana Mazzei (1979, São Paulo), Gal. Jaqueline Martins, vem criando há alguns anos objetos instalativos, que são por vezes participativos como Garabandal (2015) e por vezes performáticos como no projeto Vesuvius de 2020. Nestas obras, a artista provoca deslocamentos de pontos de vista a partir dos deslocamentos que o corpo ou olhar do espectador fazem. Uma mudança de posição que provoca a mudança de perspectiva e de referência consequentemente.

"Garabandal" (2015), Ana Mazzei (Foto: site da artista)

A artista Tadáskía (1993, Rio de Janeiro), Galeria Sé, também provoca em sua produção, deslocamento de pontos de vista convencionais, recorrendo principalmente ao desenho e à fotografia. Ela desenvolve trabalhos que lidam com questões sociais em que sua imagem queer fotografada aparece como um dado poético ou ainda como referência para as formas orgânicas de suas esculturas e desenhos. As foto-performances Língua preta, aparição e a série Are you a bicho a bicha? ambas de 2019 são exemplos de trabalhos em que a imagem da artista é a chave que conecta espaços de fala e de pertencimento.

"Aladas" (2020), Tadaskia (Foto: Sé Galeria)

Outras duas artistas que utilizam a própria imagem num sentido abertamente político, atualmente, são Aleta Valente (1986, Rio de Janeiro) galeria Gentil Carioca e Elle de Bernardini (1991, Itaqui) Galeria Karla Osorio. Ambas mulheres com produções fortemente orientadas por suas biografias, produzem  obras que abordam a desigualdade entre gêneros, a sexualidade, a identidade e a interseccionalidade. Nestes trabalhos o corpo transgride os limites impostos, resiste às violências, aos sexismos, aos binarismos, ao racismo e à invisibilização.

SP-Arte 2021 (Foto: divulgação)

SP–Arte Profile

Join the SP–Arte community! We are the largest art and design fair in South America and we want you to be part of it. Create or update your profile to receive our newsletters and to have a personalized experience on our website and at our fairs.