Editorial
SP–Arte
Audioguia 2021: Concretos, neoconcretos e os usos da abstração geométrica no Brasil da década de 1950 Copy
Frederico Coelho
1 Dec 2021, 11:44 am
Este texto foi escrito por ocasião da SP–Arte 2021 e compõe um dos audioguias produzidos exclusivamente para a Feira. Você pode ouvi-lo aqui:
O campo das artes visuais brasileiras na década de 1970 pode ser entendido, antes de tudo, como o momento em que a ideia de arte contemporânea se instala de vez. Por conta das circulações internacionais de artistas locais nas décadas anteriores e pelas transformações que novas práticas como a performance, o vídeo, a fotografia, as instalações e a arte conceitual introduziram no cenário artístico mundial, as diferenças entre um contexto local e um contexto global foram praticamente abolidas.
Na década de 1970, em meio a um duro regime ditatorial civil-militar, os movimentos da arte da década anterior, em sua maioria ligados a uma visualidade pop e um conteúdo de contestação política, produziram obras emblemáticas através de nomes que permaneceram ativos, como Antonio Dias, Carlos Vergara, Rubens Gerchman, Antonio Manuel, Lygia Pape, Claudio Tozzi, Nelson Leirner, Carlos Zilio ou Anna Maria Maiolino. Sem grupos coletivos, porém com uma série de afinidades, tais nomes vão aos poucos se deslocando para linguagens que exploram outras formas de pensar o objeto artístico. Apesar de permanecerem conectados com as temáticas políticas de seu tempo, uma nova geração de artistas que surgiu no período viu nas novas mídias e linguagens um caminho possível para pensarem suas obras.
Outro ponto importante desse momento foi a consolidação de um mercado de arte com o surgimento de galerias, o crescimento dos leilões, a publicação de novas revistas, o adensamento do campo crítico e curatorial, a concessão de bolsas, o intercâmbio internacional e a abertura dos museus de arte moderna para que tais trabalhos pudessem ser ocupados. Além disso, uma compreensão mais ampliada do espaço da arte e da escala das obras fez com que o espaço público fosse incorporado de vez às práticas artísticas de então.
Nessa fronteira entre museus e espaços públicos, o tema do experimental se tornou importante para se pensar os rumos que a arte brasileira deveria seguir em situação ditatorial. Artistas como Cildo Meireles, Artur Barrio e Tunga colocam em prática performances e instalações que desafiam o senso comum sobre a arte brasileira. Outros artistas como Paulo Bruscky utilizam meios até então pouco usuais como a arte postal e uso de jornais (assim como Antonio Manuel na década anterior e como Cildo em suas “inserções em circuitos ideológicos”, porém com garrafas de Coca-Cola e notas de cruzeiro) para fazer da arte uma presença no cotidiano.
É também nessa geração que artistas se filiaram a uma matriz mais conceitual, trazendo simultaneamente em suas obras – na sua maioria objetos, esculturas e instalações – uma intervenção estética e um pensamento crítico sobre a história da arte e sua condição na sociedade brasileira. É o caso de trabalhos como os de Waltércio Caldas, José Resende, Ivens Machado, Carlos Fajardo, Iole de Freitas, Regina Silveira, Nelson Leirner, Maria do Carmo Secco, ou Ascânio MMM.
Foi também durante essa década que as novas mídias como o vídeo e o super-8, além do uso mais intensivo da fotografia e o forte apelo gráfico de alguns trabalhos se tornaram parte integrante da arte brasileira. No caso dos vídeos, vale destacar o espaço ocupado pioneiramente por artistas mulheres como Sonia Dias, Letícia Parente ou Anna Bella Geiger, mas também outros nomes como Angelo de Aquino, Anna Maria Maiolino, Arthur Omar e Regina Vater. Miguel Rio Branco e Alair Gomes são nomes representativos na fotografia. Nessa geração vemos ainda os que apostaram no “campo ampliado” da arte ao produzirem obras que eram discos (como os de Cildo Meireles e Antonio Dias), livros, objetos ou telas com tratamentos gráficos, como Luiz Alphonsus Guimarães, Mira Schendel, Amélia Toledo ou o pintor Raymundo Colares.
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