Pavilhões nacionais marcam a tradição da Bienal de Veneza, a mostra de artes mais antiga do mundo; Veja algumas participações!

14 mai 2019, 17h52

A mais tradicional e prestigiada mostra de artes visuais do mundo está aberta ao público. Sob o título “May You Live in Interesting Times” (“Que você viva em tempos interessantes”), a 58ª Bienal de Veneza tem curadoria do norte-americano Ralph Rugoff e busca refletir sobre a tensão do momento presente sem estabelecer argumentos específicos.

Além da exposição principal, que se divide entre o Arsenale e o Giardini, a Bienal de Veneza é conhecida pelas mostras em pavilhões nacionais, que funcionam tal como “embaixadas artísticas”, espalhando milhares de turistas por espaços da cidade medieval.

Por vezes considerado obsoleto, este modelo, abolido na Bienal de São Paulo em 2006, é encarado pelos artistas participantes de diferentes formas, assimilando ou refutando identidades que envolvem seus respectivos países. Ultrapassada ou não, a dinâmica das representações nacionais desafia curadores e artistas a se arriscarem nas propostas que apresentam na grande mostra, em cartaz até 24 de novembro.

A SP-Arte selecionou alguns dos pavilhões nacionais mais marcantes desta Bienal – seja para quem visitará o evento ou para quem, mesmo de longe, quer ficar por dentro do que acontece em Veneza.


Brasil

A dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Burca apresentam fotografias e um vídeo inédito, “Swinguerra”, centrado em grupos de danças de swingueira e brega da periferia de Recife, cidade onde a dupla vive e trabalha. “O trabalho apresenta um panorama profundo e empático da cultura brasileira contemporânea, em um momento de significativa tensão política e social. Os corpos predominantemente negros na tela (muitos deles de gênero não binário) estão de muitas formas no centro de disputas contemporâneas sobre visibilidade, direito e autorrepresentação”, afirma o curador Gabriel Pérez-Barreiro.


Lituânia

A representação da Lituânia, que levou o Leão de Ouro desta edição, transformou um antigo cais nunca antes usado pela Bienal. A partir do andar superior, os visitantes podem observar a praia artificial, suspensa no tempo, criada pela diretora de teatro Rugilė Barzdžiukaitė, junto à dramaturga Vaiva Grainytė e da compositora Lina Lapelytė. Na obra-teatro criada pelos lituanos, pessoas comuns em um dia de praia compõem uma ópera fora do comum, que narra problemas relacionados às mudanças climáticas. “A peça tem a ver com questões ecológicas e o Antropoceno”, disse Grainytė. “Mas eu não queria ser didática porque é um tópico tão grande e era importante encontrar uma linguagem sutil e romântica”, continuou a dramaturga durante a cerimônia de premiação. “Nesta peça, traçamos uma linha entre a fragilidade do corpo humano e a fragilidade da terra”, disse Barzdžiukaitė.

FRANÇA

Uma névoa misteriosa encobre o pavilhão da França, um dos mais comentados desta edição até agora, ocupado por Laure Provoust. Os visitantes devem entrar pelos fundos, onde supostamente a artista cavaria um buraco entre os pavilhões francês e britânico. Outro pavimento revela estranhas naturezas-mortas espalhadas por um piso claro, criando um ambiente descrito como aquático e tentacular, até culminar em uma sala escura com um filme inédito de múltiplos personagens. Questões como a modernidade líquida e os problemas da globalização são abordados de maneira ficcional e um tanto surrealista.


GANA

O país africano estreia seu pavilhão próprio na Bienal de Veneza com a mostra “Ghana Freedom”, evocando uma música popular de 1957, quando o país tornou-se independente. A curadora Nana Oforiatta-Ayim escolheu seis artistas de três gerações para compor um panorama estético-político de importantes artistas visuais de Gana. Entre eles estão El Anatsui – um dos raros a ter levado tanto a menção honrosa quanto o Leão de Ouro em participações anteriores em Veneza –, a fotógrafa pioneira Felicia Abban e o videoartista John Akomfrah. O pavilhão é uma homenagem ao nigeriano Okwui Enwezor, curador da 56ª edição da mostra e um dos principais incentivadores da criação desta representação nacional, que faleceu em março deste ano.

TAIWAN

A artista Shu Lea Cheang transforma o Palazzo delle Prigioni, prisão veneziana do século XVI, tomando como ponto de partida estudos sobre sujeitos encarcerados por causa de gênero ou dissensão sexual, como Marquês de Sade e Michel Foucault, bem como casos recentes de encarceramento em Taiwan e na África do Sul. Cheang interfere na arquitetura da prisão ao instalar monitores que narram a história destes personagens. Ao mesmo tempo, os monitores replicam os rostos dos visitantes, que são capturados e digitalizados em 3D através de um sistema de vigilância subversivo. “Gênero e transformação racial tornam-se estratégias digitais queer para romper a tradição das técnicas de identificação colonial e antropométrica”, afirma o texto no site da exposição, que tem curadoria do importante teórico queer Paul B. Preciado.


CHILE

A partir da bienal mais poderosa do mundo, a artista chilena Voluspa Jarpa descostura a complexidade das narrativas coloniais, esmiuçando seus mecanismos e discursos de dominação. Curada por Agustín Pérez Rubio, do time curatorial da próxima Bienal de Berlim, a pesquisa de Jarpa se desenvolve em três momentos – o Museu Hegemônico, a Galeria de Retratos Subalternos e a Ópera Emancipadora – com a intenção de revelar e revisar conceitos eurocêntricos sobre, por exemplo, raça, patriarcado e civilização.

SUÍÇA

Pauline Boudry e Renate Lorenz apresentam no pavilhão suíço o projeto “Moving Backwards” – um convite ao recuo como tática de resistência e ação diante das atitudes reacionárias da geopolítica atual. Além de uma instalação que remete a um ambiente de festa e um jornal com textos ativistas, a dupla de artistas apresenta um vídeo inédito que é a peça central do pavilhão. As coreografias e os dançarinos da obra, que remetem a cultura underground e urbana, em certos momentos parecem mover-se ao contrário, provocando uma confusão no senso de direção e continuidade do visitante.

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