Editorial
arte na rede
O mergulho dos artistas no Instagram
Caio Blanco
22 out 2019, 10h42
Não é surpresa notar que as redes sociais estão cada vez mais entrelaçadas com o tecido de nossas vidas e, agora, para além do contato social online, elas passaram também a ser ferramentas fundamentais de trabalho e de marketing. O mercado de arte não escapa a esta tendência: galerias de arte têm aumentado seus investimentos nas redes sociais para incrementar vendas e conquistar potenciais clientes, principalmente dentro do Instagram. Afinal de contas, de acordo com o Hiscox Online Art Trade Report 2019, 43% dos jovens colecionadores (e 34% de todos os entrevistados no estudo) disseram que as redes sociais influenciaram em suas decisões na compra de obras de arte.
Não é para menos: o Instagram acabou por se tornar umas das mais populares redes sociais do mundo, atingindo a marca de 1 bilhão de usuários ativos e gera cerca de quinze vezes mais interações do que o Facebook. É, sem dúvida alguma, terreno fértil para quem quer negociar obras de arte. Porém, com sua grande ênfase em uma comunicação visual, o Instagram se transformou também em uma plataforma perfeita para os artistas. Através da criação de um perfil próprio no Instagram, o artista fica livre tanto para experimentações estéticas, quanto para a promoção de seu trabalho.
Acima: Imagens de Samuel de Saboia e Gustavo Von Ha no Instagram (Montagem: Alexandre Drobac)
Além disso, a rede proporciona, em diversos níveis, a emancipação dos artistas. Pelo menos é o que pensa Samuel de Saboia, 21, que nos conta que “o uso das redes sociais sempre foi uma forma de alcançar espaços sem ter de se preocupar com a representação de uma galeria ou a escolha de um curador“.
O pernambucano, que cresceu em um bairro humilde do Recife, entendeu cedo o poder das redes sociais. “Eu comecei aos treze anos com uma página no Facebook, a Nympheshit, postando desenhos e vídeos. Depois disso, mandei mensagens para algumas pessoas importantes de galerias e instituições divulgando meus quadros e os vendendo a R$ 250 reais para bancar minha passagem para São Paulo. Fiz tudo sozinho, na cara de pau“, conta.
A atitude ousada rendeu frutos: o jovem artista é hoje representado pela Galeria Kogan Amaro e pela Ghost Gallery – mas nunca com contrato de exclusividade, como faz questão de ressaltar. Além disso, já figurou em matérias na Elle Magazine, Flaunt Magazine e Vogue.
Com mais de 30 mil seguidores em seu Instagram (@samueldesaboia), o artista também entende a importância das métricas e de ter uma estratégia bem definida para as redes. Ao lado de seu agente – Declan Eytan –, Saboia soube construir sua imagem enquanto artista e it–boy do mundo da moda, despertando interesse do público tanto por seu trabalho artístico quanto por sua vida pessoal.
Instagram como braço extensor da criação artística
Mas essa não é a embocadura utilizada por todos os artistas dentro do Instagram. O artista Gustavo Von Ha, 42, entende o uso da rede como uma extensão de sua criação artística. “Meu trabalho sempre vai no limite entre realidade e ficção, e a questão virtual fala diretamente nesse sentido“, diz ele, que utiliza principalmente os stories para criar narrativas artísticas a partir de vídeos e do uso de gifs e de memes.
Von Ha, que já ultrapassa a marca de 16 mil seguidores em seu perfil (@von_ha), diz que não utiliza o Instagram para se autopromover ou para fazer marketing de seu trabalho. “Esse não é o papel do artista“, pontua ele. Para ele, o artista deve concentrar–se apenas em executar seu trabalho de criação.
“O Instagram é uma plataforma que eu uso como uma linguagem. Por lá, consigo fazer uma grande colagem e me apropriar de tudo para criar uma nova narrativa. Considero perfis que parecem um portfólio uma chatice“, conclui. Como ele mesmo define, o Instagram é um espaço para “piração“.
A abordagem diferenciada dos artistas dentro da rede só corrobora sua importância enquanto plataforma digital nos tempos atuais, podendo servir tanto à execução de uma estratégia de marketing e de promoção de obras, quanto como um braço criativo do trabalho artístico. Uma coisa, entretanto, é inegável: a rede cresce exponencialmente sua influência mundial a cada dia e, qualquer artista que não a utilize – seja para para criar ou para vender – está ficando para trás na dinâmica contemporânea.
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