Em nosso aniversário de quinze anos, queremos comemorar a trajetória de figuras fundamentais para o fomento do circuito como um todo

26 mar 2019, 15h11

Com a ampliação, nas últimas décadas, das teorias de gênero e dos estudos que relacionam arte e feminismo, as instituições (museus, galerias e universidades) têm repensado seu papel quanto às disparidades de gênero e o lugar das mulheres nas coleções e no sistema de arte.

Dados apresentados pela professora e pesquisadora da USP, Ana Paula Simioni, em um colóquio de 2017 no Instituto de Estudos Brasileiros, revelam que apenas 20% das obras da coleção da Pinacoteca do Estado de São Paulo foram realizadas por artistas mulheres. No caso do MAC-USP, a presença feminina é de 29%. Um pouco maior, mas longe do ideal.

Em 2017, o coletivo de artistas e ativistas Guerrilla Girls demonstrou que apenas 6% dos artistas do acervo do Masp em exposição na época, eram mulheres. Nos cargos executivos, as instituições fracassam ainda mais. Em São Paulo, por exemplo, dos dez museus mais visitados da cidade, apenas o Museu da Casa Brasileira e o Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia são dirigidos por mulheres.

Na contramão desses dados, o mercado brasileiro de arte, principalmente o paulistano, é dominado por mulheres galeristas, muitas delas figuras fundamentais para o fomento e dinamização do circuito como um todo, tendo um papel no fim das contas tão essencial e forte quanto o das instituições. Essas galeristas participaram ativamente e foram pioneiras na consolidação do mercado, contribuindo para a formação de todo o sistema. Fora da capital paulista, mulheres como Silvia Cintra, Celma Albuquerque, Karla Osório, Anita Schwartz, Lucia Santos (Amparo 60) e Marga Pasquali (Bolsa de Arte) também trabalham para expansão do circuito artístico para além do eixo Rio São Paulo.

No ano em que a SP-Arte completa quinze anos, queremos comemorar a trajetória de algumas destas galeristas.


Ana Dale

A relação de amor com a arte começou cedo e em casa para Ana Dale, sócia da Almeida e Dale Galeria de Arte. “Minha mãe pintava e eu, ainda menina, acompanhava com admiração a sua dedicação pela pintura”, conta Ana. Dale entrou para uma galeria de São Paulo quando conheceu Antônio Almeida, que lá trabalhava. Em 1988, juntos inauguraram a Almeida e Dale Galeria de Arte. Atualmente, Carlos Dale – filho de Ana –, também dirige a galeria, reconhecida por seu foco na arte moderna ao trabalhar artistas como Alfredo Volpi, Alberto Guignard, Ismael Nery e José Pancetti. Para Ana Dale, o que norteia sua trajetória no galerismo é o desejo de alargar as relações do público com a arte a partir da pluralidade de linguagens.

Confira o perfil online da Almeida e Dale Galeria de Arte.


Berenice Arvani

A moda foi o caminho que levou Berenice Arvani a entrar para o mercado de arte. Berenice trabalhava com moda nos anos 1980 e ia anualmente a Paris para trabalhar nos Salões do Prêt-a-Porter. Nas horas vagas, visitava as galerias do Marais e percebeu, então, que se interessava mais pela arte do que pela moda. Em 1989, Berenice abriu um escritório de arte onde atendia galerias de fora de São Paulo. Em 2000, na Rua Oscar Freire, inaugurou a Galeria Berenice Arvani, local onde está instalada até hoje. Sua galeria trabalha principalmente com arte contemporânea, com foco especial em artistas construtivos como Judith Lauand, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, João José Costa, entre outros.

Confira o perfil online da Galeria Berenice Arvani.


Jaqueline Martins

A história de Jaqueline Martins no galerismo de arte é recente se comparada a de suas pares no circuito paulistano. Nos anos 2000, ela largou um trabalho no mercado secundário para mergulhar em uma intensa pesquisa sobre a cena contemporânea em acervos como o do MAC-USP, culminando na inauguração de seu espaço próprio em 2011. A Galeria Jaqueline Martins representa jovens contemporâneos em diálogo com um time de artistas das décadas de 1970 e 80 que passaram ao largo dos holofotes de sua época. Ícaro Lira, Daniel de Paula e Ana Mazzei são alguns dos nomes em ascensão representados – entre os históricos-radicais, estão Ricardo Basbaum, Martha Araújo e Hudinilson Jr.. O tom experimental destas poéticas é uma das características mais marcantes da galeria no circuito artístico, que também escapa do tradicional ao manter sua sede em um casarão na Vila Buarque, zona central de São Paulo.

Confira o perfil online da Galeria Jaqueline Martins.


Luciana Brito

Antes de pensar em ser galerista, Luciana Brito estudou para se tornar artista. Formada em artes plásticas, a empresária mineira acabou traçando outros caminhos quando, na década de 1980, começou a trabalhar na implementação de um projeto de arte-educação no MAC-USP. A experiência no museu acabou levando-a para outra ponta do sistema das artes, uma galeria. Brito trabalhou por anos na galeria Raquel Arnaud, experiência fundamental para que, em 1997, inaugurasse, junto com Fábio Cimino, a Galeria Brito Cimino. Desde 2009, Luciana comanda sozinha o negócio, que agora leva apenas seu nome. No conjunto de artistas reunidos por ela, chama atenção o interesse da casa por meios menos convencionais, como performance: Marina Abramovic e Paula Braga fazem parte do time de Luciana Brito, que também conta com Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro, Regina Silveira e mais 23 artistas.

Confira o perfil online da Galeria Luciana Brito.


Luisa Strina

A primeira sala que Luisa Strina usou para abrir sua galeria, há 45 anos, era o ateliê do artista Luis Paulo Baravelli, curiosamente na mesma rua em que a galeria mantém sua sede hoje em dia. Ela organizava exposições de seus professores, como Baravelli e Carlos Fajardo, num momento quando não havia ainda um lugar exclusivamente dedicado à comercialização de obras no Brasil. Um ano depois da abertura oficial da galeria, em 1975, Strina começava a trabalhar com seu primeiro artista estrangeiro, Antoni Muntadas. Desde então, a galeria intensificou seu foco na arte conceitual e é reconhecida pelo forte caráter internacional de suas representações até hoje. Atualmente, a galeria trabalha com nomes como Cildo Meireles, Anna Maria Maiolino, Marcius Galan, Laura Lima e tantos outros em um cruzamento geracional. Luisa Strina é uma personagem tão marcante no circuito da arte contemporânea brasileira que seu nome já figurou em diferentes listas dos mais influentes no mundo das artes. E no âmbito íntimo, seu zelo com a prática e o legado dos artistas foi essencial para inscrever alguns nomes na história da arte brasileira.

Confira o perfil online da Galeria Luisa Strina.


Márcia Fortes

A trajetória de Márcia Fortes nas artes visuais é bastante incomum: formada em Literatura inglesa e americana na New York University, Fortes trabalhou como jornalista em grandes veículos por mais de uma década, até que recebeu um convite do colecionador e galerista Marcantônio Vilaça para realizar curadorias na Galeria Camargo Vilaça. Em 2001, juntou-se à sócia Alessandra D’Alóia e juntas transformaram a Camargo Vilaça em Fortes Vilaça. Nas duas últimas décadas, essas duas mulheres foram as responsáveis por transformar a galeria em uma das maiores do Brasil, com um portfólio que inclui artistas com grande inserção e circulação nacional e internacional (alguns exemplos são Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto). Recentemente, uma nova fase se abriu ao negócio: Márcia e Alessandra juntaram-se ao então diretor artístico da casa, Alexandre Gabriel, em uma nova marca, a Fortes D’Aloia & Gabriel. Desde 2016, a galeria possui uma nova filial, a Carpintaria, espaço no Jockey Clube carioca dedicado à exibição de arte contemporânea.

Confira o perfil online da Fortes D’Aloia & Gabriel.


Marilia Razuk

Desde 1992, Marilia Razuk gerencia sua galeria de arte, que atualmente tem sede no bairro do Itaim, em São Paulo. Comprometida em promover o trabalho de nomes consolidados e emergentes, a galerista tem em seu portfólio artistas como Amilcar de Castro, Ana Dias Batista, José Bechara e Lucia Mindlin Loeb, além de promover anualmente diversas exposições que movimentam o circuito das artes paulistano. Sobre o ofício de galerista, ela afirma: “O trabalho é feito hoje para dar frutos daqui a anos, então é um trabalho de muito investimento, é um trabalho que tem que ser feito com muito amor”. Não à toa, Marília encarou um novo desafio a partir de 2010: abrir, na mesma rua da galeria, um segundo espaço, focado em arte experimental, projetos especiais e instalações site-specific, que brincam com novas mídias e formatos.

Confira o perfil online da Galeria Marilia Razuk.


Nara Roesler

Natural de Recife, Nara Roesler cresceu em meio à coleção de arte de seu pai, o empresário Ivo Roesler. Ainda nos anos 1980, seu interesse por arte começou a se transformar em profissão; no final daquela década desembarcou em São Paulo e fundou sua galeria, que, em 2019, completa trinta anos. Hoje, além da unidade paulistana, o negócio conta com filiais no Rio de Janeiro e em Nova York. A galeria representa artistas de diversas gerações: nomes consagrados como Abraham Palatnik e Antonio Dias, e também criadores que têm se firmado no circuito de arte contemporânea nos últimos dez anos, como Bruno Dunley e Berna Reale. Hoje a galerista conta com a colaboração de seus dois filhos na administração do negócio, Daniel e Alexandre Roesler.

Confira o perfil online da Galeria Nara Roesler.


Raquel Arnaud

Durante a infância no interior de São Paulo, Raquel Arnaud sonhava em trabalhar com música. Já na capital, pelos anos 1950, a intimidade com a prática e o legado de Lasar Segall (seu então sogro) a fizeram mergulhar de vez no universo das artes visuais. Ainda nos anos 1970, abriu sua primeira galeria tornando-se uma das precursoras deste tipo de mercado de arte no Brasil. Arnaud é reconhecida por sua atuação junto a artistas cujo grande tema é a abstração e o geometrismo, seja nas linhas construtivistas ou cinéticas, e em suportes que vão do escultórico ao fotográfico – segundo ela, o processo de seleção de artistas é sempre impulsionado pelo visual. Sua trajetória se mistura com  de nomes consolidados na arte brasileira, como Hércules Barsotti, Iole de Freitas, Carlos Vergara, Mira Schendel, José Resende, Lygia Clark e Waltercio Caldas. A galerista também criou, em 1997, o Instituto de Arte Contemporânea, dedicado à salvaguarda de documentos pessoais de artistas.

Confira o perfil online da Galeria Raquel Arnaud.


Vilma Eid

Sempre que é questionada sobre como começou seu interesse por arte, Vilma Eid rememora o episódio em que se deparou, ainda jovem, com um quadro de José Antonio da Silva em uma galeria paulistana. Foi paixão à primeira vista. Da Silva acabou se tornando o primeiro artista da sua então incipiente coleção de arte popular, que viria a se tornar uma das maiores do Brasil. De colecionadora, Eid passou a galerista no final da década de 1980 e, desde então, trabalha pela valorização do trabalho de artistas autodidatas de todo o país. Mais do que galerista, Vilma tornou-se uma pesquisadora da cultura popular, e é realizando pesquisas de campo nos mais diferentes lugares do Brasil que ela conheceu grande parte dos artistas com quem hoje trabalha. Desde 2004, Vilma comanda a Galeria Estação, espaço em Pinheiros que já agrupa mais de cinquenta criadores em seu portfólio. Além das exposições individuais e coletivas de seus representados, a galeria realiza mostras em que coloca em diálogo a produção de seus artistas com outros nomes consagrados da arte brasileira.

Confira o perfil online da Galeria Estação.

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