Editorial
Curadoria 365
Curadoria 365 : Corpo/experiência como território inventivo
Carollina Lauriano
12 mai 2021, 8h21
Partindo da ideia de que a arte nos permite experienciar diferentes possibilidades de ser e estar, e vivenciar novas formas de perceber, conhecer e pensar o mundo e a si mesmo, “Corpo/experiência como território inventivo” realiza aproximações poéticas entre os trabalhos de Camila Fontenele, Dora Smék, Élle de Bernardini, Luciana Magno, Rafael BQueer, Rebeca Carapiá, Regina Parra e Terroristas del Amor, a fim de evidenciar o domínio da arte como espaço de significação do corpo.
Dessa forma, essa curadoria se centra nas seguintes questões: relação entre corpo e espaço; sexualidade; inclusão das diferenças e violência, para criar uma narrativa visual múltipla e ampla, que destaca o corpo como lugar de experiências e construções de subjetividade. Pensar os limites e as possibilidades de processos de subjetivação, pela ótica dos confrontos e subversões de gênero, é observar como os aparatos institucionais e suas relações normativas implicam na dominação de corpos tidos como minoritários, marginais, subversivos e dissidentes.
Nesta estratégia de combate e reclame por sua própria identidade, tais obras tomam como motivação a batalha pelo direito ao próprio corpo, referindo-se a uma tentativa de obter voz ativa na própria existência e também na sociedade. Tais problematizações nos confrontam com a consciência que certos corpos, enquanto matéria viva e pulsante, ainda são um local de incômodo.
Dora Smék
“Colo”, 2019
Escultura: 45 × 30 × 28 cm
Central Galeria
Neste contexto, “Colo”, de Dora Smék, serve como um ponto de partida interessante para pensarmos tais questões. Nele, uma ossatura pélvica feminina suporta um tubo retorcido em ferro fundido que, ao mesmo tempo que abarca um gesto violento, também reflete sobre noções de adaptabilidade de um corpo que acolhe e sustenta.
Regina Parra
“Que espécie de coragem?”, 2020
Pintura: 56 × 76 cm
Galeria Millan
Camila Fontenele
“Quando tudo deixa de ter esses nomes, quando nada mais me separa”, 2020
Fotografia: 60 × 25 cm
Piscina
As relações entre a vulnerabilidade e a força do corpo feminino, também, estão presentes nos trabalhos “Que espécie de coragem?”, de Regina Parra e “Quando tudo deixa de ter esses nomes, quando nada mais me separa”, de Camila Fontenele. Enquanto Parra reafirma a imagem como lugar de investigação da própria potência, o apagamento contido no trabalho de Fontenele nos faz pensar sobre as invisibilidades, padronizações e normatividades implicadas em certos corpos e como o ato de desaparecer implica em uma existência livre de nomenclaturas.
Rebeca Carapiá
“Palavras de ferro e ar — Escultura 16”,
da série “Como colocar ar nas palavras”, 2020
Escultura: 209 × 120 cm
Galeria Leme
Élle de Bernardini
“Pinball”, da série “Ensaio para o encontro do rosa e do azul”, 2020
Pintura: 50 × 70 × 4 cm
Galeria Karla Osorio
Utilizando-se de construções metafóricas para mediar conflitos entre normas da linguagem e do corpo, Rebeca Carapiá e Élle de Bernardini abstraem a imagem como forma de invocar novas fabulações para a própria existência. Em “Pinball”, Bernardini reúne elementos que discutem relações de gênero e a busca por uma neutralidade que permitiria aos corpos uma maior fluidez de transitar por suas escolhas, sejam elas de sexualidade ou identitárias. Já em “Palavras de ferro e ar — Escultura 16”, Carapiá recorre à abstração como modo de criar uma escrita que foge aos marcadores coloniais.
Luciana Magno
Sem título, da série “Orgânicos”, 2014
Fotografia: 80 × 120 cm
Janaina Torres Galeria
Rafael BQueer
“Alice”, da série “Alice e o chá através do espelho”, 2016
Fotografia: 60 × 80 cm
01.01 Art Platform
A integração do corpo à paisagem e ao entorno é o elemento determinante para a construção das imagens que compõem os trabalhos de Luciana Magno e Rafael BQueer. Se em “Alice”, BQueer explora a releitura da personagem literária enquanto figura LGBTQI+ não branca diante de uma realidade brasileira distópica, em Sem título, da série “Orgânicos”, Magno recorre a uma espécie de mimese do corpo enquanto natureza para denunciar questões políticas, sociais e antropológicas, relacionadas ao impacto do desenvolvimento da região amazônica.
Terroristas del amor
“Terra húmeda”, 2019
Pintura: 58 × 99 cm
Nacional TROVOA
A herança nacional colonizadora, a natureza e a memória ancestral também são elementos que recaem sobre “Terra húmeda”, do coletivo Terroristas del amor. Ao evocar a terra como local de pertencimento, as artistas falam diretamente sobre os seus corpos, apresentando modos de defesa, proteção e ataque contra a heterocidade.
Ao promover novas, e múltiplas, formas de subjetivação e existência, os trabalhos apresentados em “Corpo/experiência como território inventivo” refletem como os fazeres artísticos, ao se valerem de práticas de liberdade, afirmam uma força inventiva do corpo enquanto estratégia de subversão e resistência para propor, assim, outras formas de existir em um mundo que, diariamente, tenta aniquilá-los.
Confira também a breve entrevista
que fizemos com a curadora.
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