Editorial
Apostas
Quem são os artistas para acompanhar de perto em 2025?
8 jan 2025, 18h21
Todo início de ano traz reflexões sobre o futuro. No universo das artes visuais, a curiosidade é em torno dos artistas promissores, aqueles para os quais olhar com atenção especial. Neste ano, para responder a essa pergunta, contamos com a ajuda dos curadores Fernanda Brenner, Fernanda Pitta, Renato Menezes, Luciara Ribeiro e Tarcisio Almeida.
Cada um deles foi convidado a indicar até dois artistas brasileiros que devem se destacar em 2025 com uma breve justificativa do porquê da escolha. Os critérios eram livres, incluindo, por exemplo, trajetória, relevância da produção, participação em exposições e residências importantes. Mais do que o tempo de carreira, eles foram encorajados a considerar o momento atual dos artistas.
O resultado que você confere abaixo é uma seleção com nomes de Bahia, Mato Grosso, Amazonas, Rio de Janeiro, Ceará e Minas Gerais que trabalham em diferentes suportes e pesquisam temas igualmente diversos: desde histórias da criação Baniwa até experimentações com pintura, texto e inteligência artificial.
Confira aqui a lista de designers para ficar de olho em 2025.
Acima: Mayara Ferrão, "I.A e Arte digital", da série “Álbum de Desesquecimentos”, 2024
Arorá (Rio de Janeiro, RJ, 2000)
Trabalha com a materialidade do tempo. Sua pesquisa se desenvolve em torno da ideia de informe — as formas que se colocam em iminente perda de matéria. Interessam-lhe também as visões, miragens, sonhos e toda forma de projeção de imagens que se rarefazem. A duração do tempo de trabalho, que pode resultar em pinturas, desenhos ou objetos, coincide com o tempo lento da observação que suas obras demandam.
arth3mis (Fortaleza, CE, 2000)
Artista visual, produtora cultural e audiovisual e arte-educadora, arth3mis tem 24 anos e vive, trabalha e lança flechas de Fortaleza (CE). É graduanda em artes visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e colaboradora da biblioteca comunitária Livro Livre Curió e da casAvoa – Museu Comunitário. Sua busca é por tecer estratégias para se pensar espaços de arte independentes e suas coletividades a partir das suas diferenças e inquietações, confabulando como se “brinca” um museu.
Daniel Jorge (Recreio, MG, 1991)
O trabalho de Daniel Jorge (galeria Paulo Darzé) se revela por meio de um pensamento crítico sobre a genealogia e o uso dos materiais, articulando em suas esculturas e instalações uma relação singular entre geometria fractal, técnicas ancestrais de cantaria e saberes vernaculares. Suas obras com pedra, barro e minério demonstram uma compreensão sofisticada do tempo geológico e das camadas históricas inscritas na matéria, enquanto carregam uma potente denúncia do apartheid contemporâneo, revelando um artista que merece atenção especial em 2025.
Frank Baniwa (Assunção do Içana, Amazonas, 1991)
Frank Baniwa é um narrador que usa a imagem como meio de expressão. Em pinturas e desenhos, representa as histórias da criação Baniwa, os seres humanos e mais-que-humanos que habitam seu cosmos. É responsável pelas ilustrações do livro “Umbigo do Mundo” (Dantes Editora), de sua irmã, Francy Baniwa, e suas obras foram expostas em “Viva Viva Escola Viva”, na Casa França Brasil, no Rio de Janeiro, de 2023 a 2024.
George Teles (Feira de Santana, BA, 1997)
Vive em trânsito entre o recôncavo, o sertão e o litoral da Bahia. Por meio de técnicas de impressão, Teles (RV Cultura e Arte) revela o invisível dos encontros presente na experiência do deslocamento. Nas oxidações das matrizes coletadas, Teles estabelece um tempo outro, que não corresponde com a linearidade e que busca a suspensão da rotina de adoecimento do tempo em que vivemos.
Kaya Agari (Cuiabá, MT, 1986)
A produção de Kaya Agari (Carmo Johnson Projects), artista do povo Kura-Bakairi, vem se desenvolvendo de modo consistente, explorando a criação de composições pictóricas a partir dos grafismos do seu povo em tela, papel e pintura mural. Sua grande sensibilidade para os planos e composições permite a ela que encare grandes painéis como os realizados em “Véxoa: nós sabemos”, na Pinacoteca de São Paulo, de 2020 a 2021, e na exposição “Somos aquelas por quem estávamos esperando”, aberta em 2024 no Sesc Catanduva. Também em 2024 ela realizou a sua primeira individual, “Kaiumalo”, na Carmo Johson Projects, depois de ter participado de várias coletivas, entre elas “Histórias Indígenas”, no Masp, em 2023.
Lucélia Maciel (Morro do Chapéu, BA, 1979)
É baiana e mora e trabalha em Goiânia (GO). É bacharela em artes visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Suas obras lidam com memórias de infância. Maciel desenvolve sua pesquisa e poética artística usando a lamparina como metáfora para pensar desigualdades étnicas, sociais e de gênero.
Mariana Rocha (Niterói, RJ, 1988)
Pesquisa o comportamento das cores em formas fluidas. O trabalho de Rocha, que se resolve predominantemente na pintura, promove uma interação entre interior e exterior, víscera e epiderme, criando um universo por vezes microscópico, celular, por vezes macroscópico, cartográfico. Resulta dessa pesquisa uma série de imagens que tendem a lembrar a natureza animal do humano e estimular uma percepção humanizada das formas de vida não humanas.
Mayara Ferrão (Salvador, BA, 1993)
A prática artística de Mayara Ferrão desestabiliza processos convencionais de documentação por meio da interação entre pintura, texto e inteligência artificial. Durante sua residência no Pivô Salvador, demonstrou como seu trabalho opera numa tensão produtiva ao questionar vieses do olhar etnográfico. A maneira como tece essas questões, sem cair em soluções fáceis ou conclusivas, demonstra compreensão aguda das contradições nos sistemas de memória e documentação contemporâneos, posicionando-a como uma voz singular a ser acompanhada com atenção em 2025.
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