A ONU foi destaque do noticiário no último mês. Conheça a história por trás do painel "Guerra e Paz", que fica na sede da organização, em NY

1 out 2019, 13h49

O movimento modernista brasileiro é uma das marcas internacionais de reconhecimento de nosso país. Os prédios de Niemeyer, as poesias de Oswald de Andrade, os quadros de pintores como Volpi e Tarsila do Amaral rodam o mundo. Candido Portinari integra esse time de peso, e seu painel “Guerra e Paz” configura uma das obras mais importantes do acervo artístico da Organização das Nações Unidas.

Na década de 1950, o governo brasileiro comissionou ao pintor um painel a ser presenteado para a organização, fundada em 1945. Portinari dedicou cinco anos à criação do painel, fazendo mais de duzentos desenhos que dariam origem às setenta representações de personagem nas lâminas, que contam cada uma com 14 x 10 metros. A primeira lâmina foca na guerra, enquanto a segunda ilustra momentos de paz. Os personagens são todos baseados em pessoas que o pintor conheceu ao longo dos seus cinquenta anos de vida, com retratos de sua infância em Brodowski, interior de São Paulo, e até sua conhecida interpretação dos retirantes. Embora o painel tenha rendido a Portinari premiação concedida pela Solomon Guggenheim Foundation, o pintor nunca pôde ver seu trabalho instalado – os Estados Unidos, no auge do macarthismo nos anos 1950, lhe negaram visto por conta dos laços políticos comunistas do pintor.


Os painéis foram presenteados à ONU em 1956 e prontamente instalados em um dos pontos de maior relevância da sede, construída em Nova York: “Guerra” se encontra na entrada da Assembleia Geral, enquanto “Paz” foi acondicionada na saída. Assim, o trabalho do brasileiro serve de lembrete aos líderes do mundo do que está em jogo durante as assembleias, e qual o objetivo final que se busca: transformar guerra em paz.

Em 2010, por iniciativa do Projeto Portinari (encabeçado por João Candido Portinari, filho do pintor), os painéis foram retirados durante uma longa reforma do prédio da ONU para serem restaurados e itinerarem para o Brasil e outros países. Antes de partirem para seu lar nos Estados Unidos em 1956, os painéis foram brevemente expostos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Mais de quarenta anos depois, eles retornaram exatamente a esse local para dar início a cinco anos nos quais a obra rodou o Brasil e países como a França e o Japão. Durante o seu tempo de restauro e exposição no Rio de Janeiro em 2010, as portas ficaram abertas para estudantes e crianças que podiam acompanhar pessoalmente o processo de restauro, aprendendo com especialistas como funciona esse resgate.

Os painéis foram devolvidos à sede da ONU em Nova York às vésperas do aniversário de setenta anos da organização, compondo uma cerimônia de “Segunda revelação”, que contou com colaboração da diretora artística Bia Lessa. João Candido Portinari e o Projeto Portinari estão presentemente engajados em conseguir estabelecer visitas abertas ao importante trabalho.

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