Editorial
Audioguia
Audioguia 2021: Urgência e esgotamento no tempo presente
Camila Bechelany
9 dez 2021, 18h23
Este texto foi escrito por ocasião da SP–Arte 2021 e compõe um dos audioguias produzidos exclusivamente para a Feira. Você pode ouvi-lo aqui:
Acima: "Seiva [mercúrio]" (2020), Frederico Filippi (Foto: Filipe Berndt)
Vivemos neste momento em pleno paradoxo do capitalismo. Uma das evidências disto é a crise ecológica de escala global em que estamos imersos. Nossa produção desregrada de bens de consumo acabou por provocar um imenso impacto na natureza: crise hídrica, aquecimento em diversas regiões e o surgimento da pandemia são algumas manifestações deste impacto. Neste roteiro irei falar sobre alguns artistas que refletem sobre o uso indiscriminado dos recursos naturais e os efeitos sociais perversos que dele decorrem.
A artista nigeriana Otobong Nkanga, representada no Brasil pela Galeria Mendes Wood DM, se interessa pelas relações entre o território e seus habitantes. Ela desenvolve seus projetos a partir de pesquisas “de campo” que se desdobram muitas vezes em instalações site-specific ou performances. Sua obra recente “There is No Such Thing as Solid Ground, 2020 (Não existe tal coisa como solo sólido) aborda os sistemas de exploração de minerais, o e trabalho exaustivo e cria ambientes para a reparação e cura, fazendo relações entre os processso extrativistas de colonização e a redistribuição do poder e do saber.
A artista Mabe Bethonico, (Gal. Marilia Razuk) também vem se dedicado a alguns anos às questões relativas à mineração, especificamente no estado de Minas Gerais refletindo sobre causas e consequências simbólicas, históricas, econômicas e sociais desse processo. Bethônico trabalha com arquivos e documentação, gerando visibilidade para como a informação e a história podem ser construídas e retrabalhadas continuamente. Suas obras se apresentam como fontes de pesquisa, numa pratica discursiva e conceitual.
Frederico Filippi (1983, São Carlos, Brasil) se interessa “pela fronteira do capital entre a civilização industrial e os espaços naturais, vistos como reserva de commodities, e como esses dois campos reverberam um no outro.” Suas obras em pintura sobre diferentes suportes dão conta de paisagens e geografias ocupadas e das modificações no meio ambiente causadas por essa ocupação. Gal. Leme
Empregando conceitos do Design Contemporâneo e da Teoria da Mídia, Luiza Crosman trabalha de forma especulativa a partir de temas para desenvolver projetos de intervenção em instituições e espaços artísticos. Ela vem investigando a composição em escala planetária de infraestruturas de diferentes naturezas para refletir sobre os espaços urbanos e as possibilidades de futuro em que o artificial e o natural não têm diferenciação, mas são partes que se alternam de um mesmo contínuo de entendimento do mundo. Alguns de seus desenhos podem ser vistos na Galeria Bergamin & Gomide.
A artista Raquel Nava, (1981, Brasília) (gal. Portas Vilaseca), em suas instalações e fotografias combina animais empalhados, alimentos, objetos em plástico, etc, tencionando os limites entre coisas e corpos, interações entre seres vivos e produtos industrializados. Sua obra segue no sentido da reflexão sobre as estruturas de domínio do homem sobre a natureza e nos lembra que nossa relação com os animais e plantas ao nosso redor é quase sempre de predação e consumo. Por sua vez, Rodrigo Braga (1976, Manaus) (Zipper) trabalha com ações performáticas realizadas em paisagens naturais para expressar relações existenciais e conflitivas entre o ser humano e seu meio, chamando atenção para os sistemas de extração e modificação da natureza operados por nós. Também pela prática da performance, Emerson Uýra (1991, Santárem – PA), artista da Amazônia, desenvolve um trabalho recente em defesa da flora, da fauna e do povo amazônico a pela denúncia das violências contra pessoas LGBTQIA+. A personagem Uýra encarna saberes da cidade-floresta e a experiência de resistência e sobrevivência registradas em vídeo, fotos e em ações no espaço expositivo.
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