Pedimos a quatro colecionadoras que nos contassem quais obras deram origem a seus acervos particulares e familiares; e quais narrativas se seguiram a partir delas

31 out 2018, 17h25

Por Yasmin Abdalla

 

“O ato de colecionar origina-se, essencialmente, da necessidade de contar histórias, embora não haja formas estruturadas de narrativa para isso. Quando se coleciona, compõe-se uma história que caminha com seu tempo”, escreveu a curadora independente Luiza Teixeira de Freitas no catálogo da SP-Arte, em 2016.

Entender como coleções de arte se formam hoje é também entender quais histórias são traçadas na contemporaneidade. Por isso, pedimos a quatro jovens colecionadoras que nos contassem quais obras deram origem a seus acervos particulares e familiares; e quais narrativas se seguiram a partir delas. Confira a resposta de Camilla Barella, Jessica Cinel, Juliana Siqueira de Sá e Maria Rita Drummond.


Camilla Barella

A coleção de Camilla Barella, 35 anos, é conduzida em conjunto com o marido, Eduardo. “Ela começou com um caráter muito conceitual e com foco em vídeos e instalações. Hoje estamos olhando para meios mais clássicos como a pintura, inserindo-os de uma maneira que dialoguem com o restante das obras”. Ela conta que suas primeiras aquisições foram as fotografias “US 1997 aquisição”, da série “Calças cerzidas” (2004), de Rafael Assef, e “Sem título” (2001), de Ricardo Carioba. “Foram escolhas feitas mais pelo fator estético. Mas o fato deles serem jovens fotógrafos também foi importante, estávamos interessados em conhecer artistas da nossa geração. Tínhamos um orçamento limitado e compramos sem a pretensão de começar uma coleção”, conta Camilla. Para ela e para o marido, há apenas uma restrição na composição do acervo da família: “A única regra que temos na coleção é que ambos têm que concordar com a aquisição da obra. Não apenas os artistas, mas cada peça é escolhida por nós dois. Parece uma regra simples, mas acho que ela é essencial para determinar o ponto principal da coleção, que é o processo e o diálogo. Isso nos interessa mais do que a aquisição do objeto em si”.


Jessica Cinel

Foram duas obras da série “Desretratos”, do artista Lucas Simões, que deram o ponto de partida no acervo da jovem colecionadora Jessica Cinel, 26 anos. “O que me chamou atenção foi a história por trás das peças”. Ela conta que o artista convidou amigos íntimos para lhe contarem um segredo, enquanto ele os fotografava utilizando um fone de ouvido. A intenção não era escutar os segredos, mas capturar as expressões de cada um na hora da revelação. Jessica acredita que o artista se conecta profundamente com o tema que permeia sua coleção: limites e fronteiras. “Minha coleção tem como objetivo tratar do mundo como uma esfera, onde as obras possam romper qualquer barreira humana, seja ela física, geográfica, sentimental ou até mesmo política. Gosto de pensar em um mundo sem fronteiras. E o Lucas retrata justamente essas limitações da mente humana ao expor uma verdade íntima, ao mesmo tempo que não a revela”, afirma Jessica.


Juliana Siqueira de Sá

Juliana Siqueira de Sá, 40 anos, nos conta que duas obras foram importantes marcos em sua coleção: a peça “Tense”, do artista Emmanuel Nassar, e “Pintura I”, da artista Tatiana Blass. “Eu e meu marido conhecemos o trabalho do Emmanuel quando fomos presenteados com uma fotografia em nosso casamento (2004) por um de nossos padrinhos, um grande colecionador de arte. Mais tarde, quando passei a me interessar e me aprofundar no mundo da arte, adquiri uma obra do artista. Contudo, tal obra sofreu sérios danos ao ser armazenada no período em que morávamos na Rússia e acabou sendo substituída por outra. Assim, como não possuo mais tal obra, hoje considero que minha primeira peça foi uma pequena pintura da Tatiana Blass”. Hoje sua coleção foca em peças de artistas mulheres – em especial brasileiras e latino-americanas. “Acho curioso o fato da minha primeira aquisição, que havia sido de um artista do sexo masculino, ter sido “substituída” por uma obra de uma artista mulher, o foco que dei posteriormente à coleção”.


Maria Rita Drummond

Para a colecionadora Maria Rita Drummond, 38 anos, duas peças merecem destaque na formação de seu acervo pessoal. “Minha primeira obra foi comprada quando eu tinha 19 anos, em 1999, no Rio de Janeiro. Comprei na época uma gravura do Amilcar de Castro com meu salário de estagiária de direito. Aos 21 anos, ganhei uma foto do Miguel Rio Branco (“Amaú”, Aldeia Gorotire, 1983), que era um grande sonho meu”. Ela conta que o fotógrafo teve um papel essencial na formação de seu olhar artístico. “Miguel Rio Branco é um dos artistas mais importantes para a formação do meu olhar. Como a família do artista era muita próxima da minha avó paterna, e ele era representado pela galeria da mãe de uma grande amiga, pude acompanhá-lo desde cedo. Uma única fotografia conseguir sintetizar pintura, cinema e poesia me mostrou uma dimensão maior das artes plásticas e despertou o interesse por mergulhar cada vez mais neste universo”. Com artistas de todas as nacionalidades e períodos em seu acervo, Maria Rita compartilha o que conquista seu olhar. “Apesar de sempre estudar os artistas, sigo meu instinto e meu coração. Realmente me apaixono pelas obras, não importando o meio, seja fotografia, pintura, escultura ou vídeo. O todo da minha coleção me parece coerente, por mais que não tenha sido planejado”.

 

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