Editorial
Marketing digital
A importância da influência dos artistas para as galerias de arte
Caio Blanco
24 jan 2020, 13h44
Não é mais novidade – ou pelo menos não deveria ser – que o marketing digital para galerias de arte é hoje um braço fundamental no processo de conversão e de vendas. Afinal, são mais de três bilhões de pessoas ao redor do mundo utilizando as redes sociais todos os dias, segundo dados da Statista. Enquanto Facebook, Youtube e WhatsApp lideram o ranking de número de usuários ativos globalmente, o Instagram vem ganhando cada vez mais relevância para setores com foco imagético, como o de moda, beleza e artes visuais.
Muito embora a maioria das galerias de arte já compreenda a importância da presença online através de sites bem estruturados e de perfis no Instagram, muitas delas ainda falham em utilizar uma de suas maiores potências: a influência de seus artistas representados e suas redes. O Influencer Marketing Hub, instituição norte-americana que analisa o setor, define o conceito de influenciador como aquele que tem o poder de afetar a decisão de compra de seu público seguidor por conta de sua autoridade, conhecimento, posição e/ou relacionamento com este mesmo público. No caso dos artistas, isso se confirma independentemente do número de seguidores que eles possuem nas redes sociais: são autoridades em seu trabalho e em sua técnica, plenamente capazes de influenciar o público especializado, de colecionadores a apaixonados por arte em geral. Além disso, a possibilidade de participar da rotina de ateliê, absorver novas referências e conhecer processos criativos desperta no público a ânsia de se aproximar ainda mais de seus artistas favoritos.
Nathalie Felsberg, diretora de marketing e comunicação da Galeria Nara Roesler, entende bem o valor dos artistas na composição de um plano de marketing. Desde o ano passado, Nathalie tem se esforçado para divulgar as exposições da galeria pela perspectiva do artista, lançando vídeos de tom mais pessoal e que, de alguma forma, focam no processo criativo do trabalho. É o caso dos vídeos produzidos para o IG TV sobre as mostras de Carlito Carvalhosa, Marcelo Silveira e Vik Muniz. “Cada exposição é única, por isso fazemos questão que cada vídeo também seja único e verdadeiro. É justamente essa verdade que faz com que o conteúdo possua um alcance orgânico tão grande”, nos conta a diretora.
Os vídeos são gravados no ateliê do artista ou durante a montagem da exposição, demonstrando a maneira de trabalhar específica de cada um. “Definimos o tom de cada vídeo a partir de uma conversa com o artista. Então, imaginamos um conteúdo e uma forma de contar a história que corresponda ao modus operandi e à visão de mundo dele”, detalha Nathalie. Ela ainda nos conta que os artistas representados formam sua mais importante rede de influência e é por isso que todas as equipes da galeria – tanto a de vendas, quanto a de comunicação – fazem questão de manter um relacionamento próximo com eles através de constantes reuniões e visitas a estúdios. Nathalie explica: “queremos incluir os colecionadores no mundo dos artistas por meio da promoção de studio visits, seminários ou talks. O colecionador compra não somente a obra, mas também a voz do artista”.
É interessante notar também que a Galeria Nara Roesler utiliza uma estratégia de influência no sentido mais amplo da palavra. Para Nathalie, todos são influenciadores: os artistas, os colecionadores e os funcionários da galeria. Todos possuem uma rede de influência, maior ou menor, e é por isso que esse mergulho no cotidiano e vida dos artistas é tão importante: para que essas redes de contato se encontrem em um interesse comum e os negócios possam ser gerados.
Não é à toa que as principais galerias do mercado têm colocado seus artistas no centro de suas comunicações. Afinal, construir uma audiência leal leva tempo e muitos artistas já mantém uma relação bastante saudável com seus seguidores. Elevá-lo à protagonista do marketing digital da galeria é, portanto, uma maneira eficiente de conquistar a atenção desse público já engajado. A própria Galeria Nara Roesler conta hoje com a ajuda do historiador de arte e escritor Luis Pérez-Oramas, seu novo diretor artístico, para uma consultoria curatorial. É um projeto que, entre outras atividades, visa compreender e dar voz aos artistas do acervo da galeria: um movimento de, mais uma vez, colocar seus representados no centro do debate e das ações. “É preciso entender quem são os artistas e, dessa forma, adaptar nossas comunicações para que possamos exercer impacto direto em seu público. O artista é e sempre será nossa mais valiosa voz”, conclui Nathalie.
Acima: "Ponto e vírgula" (2018), Maria Noujaim. Performance realizada na SP Arte 2019 - intérprete Julia Anadam (Foto: Jéssica Mangaba)
Perfil SP–Arte
Faça parte da comunidade SP–Arte! Somos a maior feira de arte e design da América do Sul e queremos você com a gente. Crie ou atualize o seu perfil para receber nossas newsletters e ter uma experiência personalizada em nosso site e em nossas feiras.