Editorial
Aposta
Dez artistas para ficar de olho em 2023
11 jan 2023, 12h18
Que tipo de práticas artísticas estão inspirando os artistas jovens? Quais são os temas que estão surgindo nessas produções mais frescas e de que forma essas poéticas podem nos guiar em 2023? Ainda que listas sejam um tanto reducionistas, reunimos aqui alguns nomes que dão o tom da cena artística atual e do que podemos esperar para o próximo ano.
A SP–Arte convidou os curadores Ana Roman, Deri Andrade, Guilherme Teixeira, Thierry Freitas e Victor Gorgulho para indicar e apresentar o trabalho de artistas que, em suas opiniões, devemos acompanhar de perto. Confira:
Arorá
Como um poema, Arorá (Rio de Janeiro, 2000) opera a dualidade entre desenho e escultura de modo ímpar, apresentando motivos marítimos e versos que narram e alegorizam diversos aspectos de sua existência. Entre eles, a possibilidade do metal em dobra habitado por pérolas, assumindo um discurso que acontece na poesia e na curva da matéria mais dura, atenta à autonomia de fazer com que ali também habite o frágil. (Guilherme Teixeira)
"Quedas d'água" (2022), Arorá, Solar dos Abacaxis (Foto: Renato Mangolin)
Daniel Frota de Abreu
A obra de Daniel Frota de Abreu (Rio de Janeiro, 1988), desdobra-se em vídeos, esculturas, instalações, performances, desenhos, materiais de arquivo e além, de modo a – delicada e perspicazmente – reconfigurá-los, sobrepô-los, imaginá-los, revelando assim um precioso prisma pelo qual o artista nos permite novas leituras acerca do Brasil contemporâneo, embebidas por tintas sci-fi, por vezes distópicas, em obras que impressionam por seu rigor formal e por uma poderosa capacidade de síntese discursiva, tão cara e tão rara ao debate contemporâneo – e não apenas na arte, sabemos. (Victor Gorgulho)
"Pane Seca" (2018), individual de Daniel Frota de Abreu, Auroras (Foto: Ding Musa)
Darks Miranda
Darks Miranda (Fortaleza, 1985) é artista multidisciplinar cuja obra transita entre o cinema experimental e a produção escultórica. Ela explora a autoficção e incorporação de forças incontroláveis aos objetos e imagens que produz. Darks é uma espécie de entidade performática, que propoe versoes de um “imaginario brasileiro, gringo, feminino e drag, fetichista e frutífero”, e que condensa, em sua poética, elementos da cultura pop, um debate acerca do animismo, da pós-pornografia, e a percepção da ancestralidade como algo a ser constantemente fabulada. (Ana Roman)
"O Segundo Pássaro" (2022), Darks Miranda (Foto: site FDAG)
"Pança e frutas terraforme" (2022), Darks Miranda (Foto: site FDAG)
Davi de Jesus do Nascimento
É muito bonito ver como a trajetória de Davi (Pirapora, 1997) se moveu nos últimos anos. Utilizando-se de elementos que remetem a sua experiência como barranqueiro e a sua vida às margens do rio São Francisco, Davi parece cada vez mais seguro de experimentar novas escalas para sua produção. Longe do minimalismo de “gritos de alerta” e “sorvedouro”, suas séries mais conhecidas, o artista tem realizado e mostrado instalações de maiores dimensões que mantém a coerência plástica e discursiva que conseguiu construir em tão pouco tempo de carreira. As obras em exibição no setor do Panorama da Arte Brasileira no Museu Afro Brasil, e sua obra exibida na recém inaugurada “Um século de agora”, no Itaú Cultural, são bons exemplos. (Thierry Freitas)
"Braços de romaria fluvial" (2017), Davi de Jesus do Nascimento (Foto: Sé Galeria)
Diambe da Silva
Diambe (Rio de Janeiro, 1993) nasceu e cresceu na Zona Norte do Rio de Janeiro e elege como fio condutor de sua produção uma singular abordagem expandida da ideia de coreografia – investigando-a em seus amplos e vastos sentidos, dos literais aos intrinsecamente metafóricos. Em um programa político-estético, desbrava, ainda além, camadas semânticas insuspeitadas do termo coreografia em si, mantendo abordagens tanto palpáveis quanto verossímeis. Desta maneira, suas ações coletivas, performances, fotografias, vídeos, pinturas e mesmo até sua produção escultórica, alimentam-se, por diferentes vias, deste singular leitmotiv, que passa a revelar uma expressiva coesão radicalmente experimental. (Victor Gorgulho)
"Devolta" (2020), Diambe da Silva (Foto: site da artista)
“Kahguyaht” (2022), Diambe da Silva (Foto: site Prêmio PIPA)
Josi
Josi (Itamarandiba-MG, 1983) é uma artista nascida em Carbonita, no Vale do Jequitinhonha MG, e que atualmente vive em Belo Horizonte. Seus trabalhos nascem em sua rotina e são criados com objetos do serviço doméstico, como peneira de bambu, engomador, caldos e temperos de cozinha, quaradores de estender roupa, entre outros. Em muitos dos seus trabalhos, ela utiliza o caldo do feijão como pigmento: surgem, nestas pinturas, personagens, sobretudo mulheres, em momentos de ação. Cria-se uma figuração nebulosa e quase fantasmagórica, que parece, de certo modo, apontar para os desafios e especificidades do ser mulher em uma sociedade marcada pelo machismo e misoginia. (Ana Roman)
Sem título, da série "Quara-dores" (2022), Josi (Foto: cortesia da artista)
Sem título, da série "Decantações, fervuras e temperamentos" (2022), Josi (Foto: cortesia da artista)
Larissa de Souza
Com uma produção marcada pela pintura, Larissa de Souza (São Paulo, 1995) tem se proposto a investigar outras formas de figuração a partir de suas relações subjetivas. Temas como identidade e o corpo da mulher negra são retratados em telas com uma estética muito particular. Suas figuras, com detalhes minuciosos, pairam em um universo quase onírico, mas que flerta com o real nos enunciados que elege. (Deri Andrade)
"A benção das crianças" (2021), Larissa de Souza (Foto: Wallace Domingues)
Marcus Deusdedit
Formado em Arquitetura, Marcus Deusdedit (Belo Horizonte, 1997) tem investigado como as várias facetas destes estudos podem ser incorporados ao seu fazer artístico. Seja intervindo em espaços urbanos, repensando a relação com o mobiliário modernista ou em suas pesquisas iconográficas, o artista tem trabalhado, em múltiplas linguagens, sobre práticas de consumo a partir da estética preta e periférica brasileira. (Deri Andrade)
Da série "P.M.R. meets Nike" (2022), Marcus Deusdedit (Foto: cortesia do artista)
Da série "Antropometria para arquitetura contemporânea" (2022), Marcus Deusdedit (Foto: cortesia do artista)
Marina Woisky
Com uma pesquisa que compreende as possibilidades da escultura aliadas às condições materiais de sua execução, Marina Woisky (São Paulo, 1996) parte de um lugar que observa as representações de fenômenos naturais, sociais, factíveis ou mitológicos da história da arte na sua possibilidade tridimensional, deslocando pórticos, frisos e figuras para um espaço incômodo, onde tais formas tomadas como tônica são, senão, estranhamento. (Guilherme Teixeira)
"Cachoeira da fortuna" (2022), Marina Woisky (Foto: Julia Thompson)
Talles Lopes
Talles Lopes (Guarujá, 1997) tem se mostrado um importante pensador do espaço e da arquitetura através da arte. Graduado em arquitetura e nascido no centro-oeste, região onde a arquitetura modernista foi amplamente difundida na segunda metade do século XX, o artista tem manifestado seu interesse, através de instalações e esculturas, em investigar as problemáticas envolvidas no programa modernista brasileiro e suas consequências para a vida nas grandes cidades. (Thierry Freitas)
"Jardim de aclimatação" (2022), Talles Lopes (Foto: site do artista)
"Excedente monumental" (2020), Talles Lopes (Foto: site do artista)
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